Beatriz Águas, GS1Portugal: “A GS1 está numa posição privilegiada para liderar projectos de sustentabilidade”



Numa grande entrevista ao Green Savers, a directora de marketing e comunicação da GS1 Portugal explica que a GS1, sendo uma organização global, privada, neutra e sem fins lucrativos, está numa posição privilegiada para lidera projectos de sustentabilidade.

Várias marcas, como Nike, Adidas, Wal-Mart ou H&M, estão a ponderar a criação de uma etiqueta de roupa que mostrará o impacto ambiental da roupa. Qual poderia ser o papel da GS1 neste processo? Qual seria o standard GS1 mais indicado para a etiqueta que as referidas marcas ambicionam criar?

Os Standards GS1 GDSN (normas globais para a sincronização de dados) permitem que os dados que circulam na cadeia de valor sejam sincronizados, através da interligação de bases de dados, de forma que a informação seja actualizada em tempo real em data pools universais. No âmbito de um sistema que meça o impacto ambiental de todas as etapas envolvidas na produção de uma peça de roupa, a utilização de Standards GS1 GDSN seria um importante facilitador à classificação universal de dados, a circulação dos mesmos, assegurando igualmente a respectiva qualidade e fiabilidade.

De que forma poderá a GS1 contribur para melhorar, de forma directa ou indirecta, a sustentabilidade do nosso dia-a-dia?

No dia-a-dia dos negócios, e pela eficiência que geram, as Normas GS1 contribuem decisivamente para a sustentabilidade. A situação é mais fácil de perceber se pensarmos no nosso dia, nas transacções que realizamos ou mensagens que enviamos. Embora nem sempre sejam visíveis, sem a existência de códigos muitas destas transacções não seriam economicamente sustentáveis.

No que respeita ao impacto directo das Normas GS1 na vida dos consumidores, o exemplo mais evidente é o código de barras (Normas GS1 BarCodes – Normas Globais para a Identificação Automática). Esta pequena ferramenta – que já se tornou numa das imagens de marca do mundo moderno – permitiu reduzir as filas de espera no check-out, introduzindo velocidade e automatização no processo de pagamento. E o tempo é, cada vez mais, um recurso escasso e precioso. O código de barras GS1 tem também um contributo essencial na protecção do consumidor, já que permite a rastreabilidade, facilitando a recolha de produtos em não conformidade.

Qual a importância, do ponto de vista ambiental, da adopção de standards que permitam a rastreabilidade de produtos ou serviços?

Se pensarmos que os processos manuais, não automáticos, geram erros, duplicações e, portanto, desperdícios de recursos materiais e de tempo, então estamos em condições de afirmar que a rastreabilidade através do Sistema GS1 gera ganhos de eficiência que não se reflectem apenas na sustentabilidade económica, mas também contribuem para a sustentabilidade ambiental.

Assim, do ponto de vista ambiental, as Normas GS1 aplicadas à rastreabilidade permitem uma gestão muito mais eficiente dos recursos e dos stocks, prevenindo o desperdício nas cadeias de valor, tanto ao nível da embalagem, como dos próprios produtos. Através de uma boa implementação do Sistema GS1 é possível prever quais os focos de desperdício e de erro.

Por outro lado, as Normas GS1 para o Comércio Electrónico permitem a desmaterialização de muitos dos documentos que, tantas vezes, se amontoam nas nossas mesas, o que não só – e uma vez mais – gera eficiência, como permite reduzir o impacto ambiental de muitos processos.

Qual a ligação da GS1 à sustentbilidade, no sentido mais lato do termo?

A GS1 é especialista em cadeias de valor. Sabemos olhar para uma cadeia de valor, de qualquer sector de actividade, e identificar aspectos de melhoria, nos quais os Standards GS1 poderão gerar eficiência. E através desta eficiência – que se consubstancia na redução de custos e do impacto ambiental dos processos – que se estabelece o elo de ligação à sustentabilidade.

De que forma as soluções da GS1 ajudam a criar um planeta mais sustentável e socialmente justo?

A GS1 está a desenvolver vários projectos na área da sustentabilidade. A nível nacional, está a decorrer o Projecto Sustentabilidade nos Transportes: um projecto colaborativo, que reúne produtores e retalhistas, e que tem como meta reunir todas estas empresas – por vezes concorrentes entre si – em torno de um objectivo: fazer uma gestão mais eficiente dos transportes e processos logísticos, de forma a reduzir a emissão de dióxido de carbono.

A GS1 é uma organização global, privada, neutra e sem fins lucrativos. Somos também especialistas em cadeias de valor e em todos os seus processos. Estas duas dimensões colocam-nos numa posição privilegiada para liderar este tipo de projectos, que vão ao encontro da nossa missão: desenvolver standards globais e promover a implementação de boas práticas operacionais, contribuindo assim para tornar mais eficiente e sustentável a relação entre os vários agentes na cadeia de valor, sempre com o objectivo de beneficiar os consumidores finais.

Tem algum dado que nos possa ceder que comprove esta ligação da GS1 à sustentabilidade?

A GS1 está a trabalhar em vários projectos na área da Sustentabilidade. O Empty Miles é um excelente exemplo de um projecto GS1 na área da Sustentabilidade nos transportes, onde se está a verificar uma efectiva redução de emissão de gases com efeito estufa. Em Portugal, também se encontra em desenvolvimento um projecto de Sustentabilidade nos Transportes, que conta com a participação de alguns dos grandes produtores e retalhistas do nosso país.

Internamente, a GS1 dedica alguma parte dos seus recursos à responsabilidade social ou ambiental?

A GS1 Portugal está a tornar-se cada vez mais activa no que respeita à responsabilidade social. Nesse sentido, cede os seus códigos a organizações e projectos de solidariedade, como a AMI, Fundação O Século ou a Ajuda de Mãe, entre outras. Desta forma, estas entidades podem, por exemplo, colocar os seus produtos de merchandising, ou outros produtos, no mercado sem incorrer nos custos de codificação.

A GS1 Canadá desenvolveu um programa, chamado Empty Miles, que se baseia num programa online que permite, através de um processo colaborativo, identificar as oportunidades de eficiência de transporte entre parceiros de negócio. De acordo com o site do Empty Miles (https://www.emptymiles.org/), esta solução já permitiu poupar, desde 2009, mais de 60 toneladas de CO2 e 22.700 litros de gasóleo. Conhecem este serviço?

O Empty Miles é um conjunto de boas práticas e de ferramentas online, de muito fácil utilização, que permitem optimizar a eficiência e a racionalização dos transportes. O objectivo é maximizar a carga da viatura (por exemplo, de um camião) para optimizar o uso do transporte, ou seja, utilizar 100 por cento da capacidade de carga disponível. A boa prática recomendada é a redução do número de transportes sem carga, ou com cargas parciais, em circulação, através de uma maior colaboração entre todos os intervenientes na cadeia de abastecimento, nomeadamente no que diz respeito à coordenação, planeamento e agendamento.

A utilização desta solução para reduzir os veículos sem carga em circulação não só permite reduzir a emissão de gases com efeito estufa, como elimina custos desnecessários. Assim, os produtos chegam às lojas com o mínimo de impacto ambiental.

De que forma pode a GS1 Portugal colocar em prática soluções de outras GS1 internacionais?

A GS1 Portugal é uma das 108 organizações membro GS1, que prestam serviços a 150 países. Quando somos uma organização com esta dimensão, onde circulam tantas boas ideias, novas soluções e implementações de boas práticas, o nosso sistema de normas não poderia ser estático. O Sistema GS1 está em permanente evolução, de acordo com as necessidades dos seus utilizadores, e a GS1 Portugal está atenta a estes desenvolvimentos, procurando utilizá-los para responder às necessidades dos seus Associados e do mercado português.

As Normas/Standards GS1 são globais (ou seja, podem ser implementadas em qualquer país) e de adesão voluntária. Como tal, não existe nenhuma obrigação legal para a sua implementação em nenhum sector de actividade. No entanto, somos líderes em codificação comercial, precisamente pelo valor que estas normas geram, aos negócios e ao consumidor e, também, em termos de sustentabilidade, sobretudo nos seus aspectos económico e ambiental.

Há alguma solução internacional que a GS1 Portugal irá implementar a curto ou médio prazo?

A curto prazo, vamos implementar uma plataforma (Plataforma GS1 SyncPT) baseada nas Normas GS1 GDSN (Normas Globais para a Sincronização de Dados). Este projecto permitirá às empresas participantes manter as suas bases de dados comerciais sempre actualizadas, praticamente em tempo real. Através da sincronização de bases das bases de dados dos parceiros comerciais, é possível consultar em tempo real qualquer alteração realizada nas bases de dados, por exemplo, dos nossos clientes. Esta plataforma também possibilitará a criação de um catálogo electrónico de produtos.

A GS1 Portugal também está a desenvolver, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, o projecto PortFIR. Este projecto enquadra-se no âmbito do EuroFIR, uma rede de excelência sobre composição de alimentos, cujo principal objectivo é desenvolver e integrar um banco de dados europeu, coerente e validado, que constitua uma fonte de dados oficial sobre a composição dos alimentos para toda a Europa. Este banco de dados é alimentado por bases de dados nacionais e conta com 26 bases de dados documentadas.

Em Portugal, para manter a base de dados nacional actualizada, foi criada a Rede Portuguesa sobre Composição de Alimentos no âmbito do programa PortFIR. Este programa visa a implementação de redes de partilha de conhecimento e a criação de um portal de informação alimentar.

Trata-se de um projecto muito importante para a GS1 Portugal, uma vez que as bases de dados de composição desempenham um papel fundamental na promoção de políticas de nutrição e saúde pública. A experiência de 30 anos de existência a desenvolver standards globais e abertos confere à GS1 a legitimidade de entregar, às instituições e ao mercado, classificações internacionalmente aceites, que permitem a importação de dados comparáveis em qualquer parte do Mundo.

Como funciona o vosso processo de I&D?

A criação e desenvolvimento de Normas GS1 são realizados num fórum internacional, constituído pela comunidade dos seus utilizadores: o Global Standards Management Process (ou GSMP). O processo I&D dos Standards é transparente e está aberto a todas as empresas que queiram promover a eficiência e sustentabilidade nas suas cadeias de valor.

Assim, o GSMP reúne utilizadores de todos os sectores de actividade, de todo o mundo, para identificar novas necessidades, reunir documentação, melhores práticas e, de seguida, obter soluções consensuais que resultarão numa nova norma para a cadeia de valor.

Existem também grupos de trabalho específicos – tanto a nível nacional como internacional – direccionados para determinados sectores: como o da saúde, logística ou transportes.

A GS1 trabalha em estreita colaboração com as Nações Unidas, Comissão Europeia, NATO e Organização Mundial de Saúde. O processo de I&D envolve também algumas das principais organizações sectoriais internacionais:

No retalho, a Association of Retail Technology Standards (ARTS), The Consumer Goods Forum (TCGF), Food Marketing Institute (FMI), Grocery Manufacturers Association (GMA), National Retail Foundation (NRF), Produce Marketing Association (PMA).

Na saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS), International Society Blood Transfusion (ICCBBA), International Hospital Federation, European Association of Hospital Pharmacists (EAHP), European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations (EFPIA).

Finalmente, nos transportes e logística, a World Customs Organisation (WCO).





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