Boa no sushi, má na Natureza: Alga invasora está a ameaçar a biodiversidade costeira no norte de Portugal



A wakame (Undaria pinnatifida) é uma espécie a alga marinha nativa da Ásia, ocorrendo na China, no Japão, na Coreia e no sudeste da Rússia. Contudo, devido ao ser valor económico, e sendo especialmente usada na medicina tradicional e apreciada na culinária asiática, como no sushi, tem vindo a ser introduzida nas águas europeias, e a espalhar-se, inclusivamente em Portugal.

Uma equipa de investigadores do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (Universidade do Minho) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Universidade do Porto) revela agora os resultados daquele que é considerado o primeiro levantamento local da wakame ao longo da costa Norte de Portugal.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘Plants’, os cientistas recordam que a wakame terá escapado para a Natureza depois de ter sido introduzida em França, colonizando as águas europeias. Em Portugal, a sua presença foi registada pela primeira vez nos inícios do século XXI, mas estaria circunscrita a marinas nas zonas de Aveiro e Póvoa do Varzim, e rerá cá chegado à boleia de navios.

O trabalho foi realizado no âmbito do projeto MarinaForest e contou com observações e recolha de amostras em seis marinas ao longo da costa Norte do país.

Os resultados mostram que a wakame compete com as algas nativas e que conseguiu mesmo substituir a espécie Saccharina latissima nas áreas de estudo, crescendo sobre mexilhões fixados em estruturas artificiais nas marinas. Em contexto natural, a wakame cresce sobre a espécie nativa Gongolaria baccata.

Contudo, a salinidade da água é um fator fundamental que influencia a presença da wakame. Ao passo que a espécie invasora foi encontrada em marinas de água salgada, como em Póvoa do Varzim e Leça da Palmeira, nas marinas de água salobra, em estuários de rios, por exemplo, não estava presente.

Além disso, foi também encontrada fora das marinas, em zonas rochosas na zona de Carreço e de Canto Marinho durante o verão de 2024, mas as tempestades de inverno fizeram desaparecer a wakame.

“Esta espécie tem tolerância limitada a condições como a exposição à ondulação, o que restringe a sua disseminação para áreas mais expostas”, explica, em comunicado, Marcos Rubal, primeiro autor do artigo. Mas adverte que “pode continuar a representa uma ameaça em ambientes mais protegidos”.

Na marina de Viana do Castelo, os investigadores removeram a wakame e verificaram que houve uma recolonização parcial por parte da alga S. latissima, o que os leva a crer que reduzir a presença da wakame pode ajudar a recuperar espécies nativas.

Com este trabalho, os cientistas esperam contribuir para uma melhor compreensão das populações ibérica e portuguesa de wakame e para estratégias e ações de gestão desta espécies invasora.





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