Branqueamento de corais detetado a mais de 90 metros abaixo da superfície do mar



Foi no Oceano Índico que investigadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, descobriram a morte de corais por branqueamento a mais de 90 metros abaixo da superfície, a maior profundidade a que este fenómeno foi documentado até agora.

Os cientistas atribuem um aumento de 30% da temperatura marinha à degradação de quase 80% dos recifes de coral em algumas zonas do leito oceânico, na chamada zona mesofótica, onde se pensava que os efeitos do aquecimento dos mares não chegavam.

“É uma grande surpresa”, confessa Philip Hosegood, especialista em oceanografia e principal autor da investigação, revelada num artigo publicado na revista ‘Nature Communications’.

Em comunicado, o cientista explica que “sempre se pensou que os corais que vivem a maiores profundidades são resilientes ao aquecimento dos oceanos, porque as águas em que vivem são mais frias do que as da superfície”. Por isso, acreditava-se que esses recifes manter-se-iam “relativamente estáveis”, mas “claramente não é esse o caso”, aponta, acrescentando que “é provável que, por todo o mundo, existam outros recifes a profundidades semelhantes que estão a ser ameaçados por alterações climáticas semelhantes”.

Os primeiros sinais de branqueamento de corais no Índico foram registados por esta equipa em 2019, através de medições e imagens recolhidas com submersíveis não-tripulados e câmaras. No entanto, nessa mesma altura, os investigadores perceberam que corais mais superficiais não apresentavam sinais de degradação, ao contrário dos congéneres mesofóticos.

Ao longo dos meses seguintes, recolheram mais dados e chegaram à conclusão de que, embora a temperatura marinha perto da superfície se tivesse mantido praticamente inalterada, nas zonas mais abaixo tinham aumentado dos 22 graus Celsius para os 29.

Os cientistas dizem que tal se deve à deslocação da termoclina – uma ‘fronteira’ entre camadas de água que separa as mais quentes da mais frias com diferenças térmicas acentuadas – para maiores profundidades na região equatorial do Oceano Índico.

Mas boas notícias sugiram anos depois. A equipa regressou aos locais de estudo em 2020 e 2022 e verificou que partes do recife branqueado tinham recuperado. Ainda assim, os cientistas apelam a mais esforços de monitorização e investigação das zonas mais profundas e menos iluminadas do oceano, onde podem estar a desenrolar-se transformações cruciais para os ecossistemas marinhos sem que se dê por elas.

“No futuro, o branqueamento nas partes mais profundas do oceano, aqui [Índico] e noutros locais, pode provavelmente tornar-se mais frequente”, declara Clara Diaz, primeira autora do artigo, sublinhando que os efeitos das alterações climáticas podem estar a desestabilizar o equilíbrio térmico oceânico, com repercussões imprevisíveis e potencialmente prejudiciais para a vida nesse mundo vasto e que, em grande medida, permanece um mistério.





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