Brasil: Alterações climáticas podem reduzir eficácia das áreas protegidas



As alterações climáticas têm vários efeitos negativos sobre ecossistemas, habitats e espécies, incluindo nós, humanos. No que toca a animais selvagens, uma das repercussões é a deslocação para locais com melhores condições ambientais.

Esse efeito de deslocação, que, na prática, acaba por ser um efeito de perda de habitat, pode reduzir a eficácia das áreas protegidas criadas para salvaguardar a biodiversidade.

Num artigo publicado na revista ‘Biological Conservation’, investigadores brasileiros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), concluem que, dado o avanço das alterações climáticas, a atual rede de áreas protegidas do Brasil “não será capaz de proteger a biodiversidade nacional face às alterações no clima”.

Através de uma revisão de vários artigos publicados sobre os impactos das alterações climáticas na capacidade das áreas protegidas para conservar a biodiversidade no Brasil, os autores destacam que “em mais de 70% dos cenários, há indícios de que as espécies devem se deslocar para fora de [áreas protegidas] em busca de condições climáticas adequadas ou terão sua distribuição total muito reduzida”, informam em comunicado.

Tudo aponta para que a Amazónia, apesar de ser o bioma com mais áreas protegidas, será onde se verá “a maior taxa anual de perda de espécies dentro das áreas protegidas”. Prevê-se que o mesmo aconteça, ainda que em menor escala, na Mata Atlântica e no Cerrado, “dois hotspots de biodiversidade onde a alta taxa de desmatamento aumenta ainda mais a vulnerabilidade das espécies”, avisam os investigadores.

“O grande problema”, argumentam, está no facto de as áreas protegidas serem “estáticas” e de a biodiversidade não, movendo-se em busca de condições mais favoráveis.

Stella Manes, investigadora do IIS e uma das autoras do estudo, salienta que os efeitos das alterações climáticas estão a levar alguns animais a abandonarem as áreas protegidas e a instalarem-se em áreas desprotegidas, onde “as espécies continuarão em risco”.

Como tal, criar novas áreas protegidas, na opinião de Artur Malecha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e primeiro autor do artigo, “é fundamental”. E os investigadores defendem que a rede de áreas protegidas do Brasil deve passar a incorporar indicadores das alterações climáticas “para tornar o sistema mais robusto”, pode ler-se no artigo.

Os investigadores avisam que a dispersão das espécies selvagens para outras zonas terá também impactos graves nos serviços de ecossistema que fornecem nos locais que abandonam. Isto, porque em algumas áreas protegidas vivem comunidades de povos indígenas que dependem desses serviços e que serão fortemente afetados se os animais forem obrigados a encontrar novos locais para habitarem.





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