Cabo Verde: Governo prevê investir 35 milhões de euros para tornar agricultura menos dependente das chuvas
O Governo cabo-verdiano prevê investir 35 milhões de euros para replicar pelo arquipélago projetos agrícolas menos dependentes da água das chuvas, quando o país vive há três anos nova seca, foi hoje anunciado.
Um desses projetos hidroagrícolas foi inaugurado quarta-feira no concelho de São Domingos, ilha de Santiago, pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que garantiu que será replicado noutras partes do país.
O Projeto Hidroagrícola Santiago Sul, instalado na localidade de Moia-Moia, foi financiado com 21,5 milhões de escudos (200 mil euros) pelo Estado cabo-verdiano, para mobilizar água e melhorar as infraestruturas de irrigação, diminuindo as perdas e aumentando a eficiência.
Envolveu a ampliação da rede de adução e de distribuição de água e a instalação de sistemas de rega localizada, bem como a construção de uma central de dessalinização de água salobra alimentada por energia solar sem bateria, numa solução apresentada como “inovadora” a nível mundial.
“Visando demonstrar que esta solução poderá ajudar na superação das condicionantes criadas pelas irregularidades das chuvas em Cabo Verde e assim permitir a prática de uma agricultura mais intensiva, diversificada e segura nas diferentes ilhas do arquipélago”, explicou o Governo, numa nota sobre o projeto.
Criando condições para uma “maior disponibilidade de água para a agricultura irrigada”, o Projeto Hidroagrícola Santiago Sul vai beneficiar 21 agricultores locais, além de criar oito novas parcelas de terreno agrícola para serem atribuídas a novos beneficiários.
“É um grande projeto piloto que pretendemos replicar em outras partes do país”, destacou, entretanto, o primeiro-ministro, sublinhando desde logo a vertente da “luta contra a pobreza”, através da produção agrícola e de condições para esse efeito, para “não estarem sistematicamente assistidas”.
Além disso, permitirá usar os recursos naturais que o país tem em abundância, como o sol, “e transformá-lo em energia”, bem como a água salobra, “transformada para produção de agricultura e para o consumo humano”.
A terceira vertente, sublinhou Ulisses Correia e Silva, é o “impacto para as comunidades”, ao aumentar as zonas de expansão de produção agrícola e com isso o rendimento das famílias.
“É por estas razões que, nos próximos tempos, investiremos cerca de 35 milhões de euros na estratégia da água, para podermos criar soluções em várias partes do país, de produção agrícola com menos dependência das chuvas”, garantiu.
A chuva voltou a cair no último mês com alguma intensidade na ilha de Santiago e noutros pontos de Cabo Verde, após três anos irregulares e insuficientes para evitar seca extrema no arquipélago. Foi sentida em praticamente todos os concelhos do interior da ilha de Santiago, eminentemente agrícolas.
A diretora-geral da Agricultura, Silvicultura e Pecuária, Eneida Rodrigues, referiu em julho que as informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, baseadas nas previsões internacionais do Centro Africano de Aplicação Meteorológica para o Desenvolvimento (ACMAD) e Centro Regional de Formação e Aplicação em Agrometeorologia e Hidrologia Operacional (AGRHYMET), apontam para uma “grande probabilidade” de as chuvas ocorrerem dentro do padrão normal em todo o arquipélago este ano.
Em janeiro, o Governo cabo-verdiano declarou a situação de emergência hídrica em todo o país até outubro, devido à seca acumulada nos últimos três anos, admitindo neste período limitações temporárias ao consumo de água.
Desde 2017 que as chuvas que caem no arquipélago têm sido insuficientes para evitar uma seca extrema e prolongada e consequente maus anos agrícolas, que têm levado o país a pedir ajuda internacional.