Cabo Verde quer fazer “boa gestão” e “tirar proveito” de reservas mundiais da Biosfera
Cabo Verde vai elaborar uma “forte agenda” para uma “boa gestão” e “tirar o proveito necessário” das ilhas do Fogo e do Maio, que passaram a integrar a lista da Reserva Mundial da Biosfera da Unesco, foi hoje anunciado.
“A classificação pela UNESCO das duas ilhas como reservas mundiais da Biosfera foi um grande êxito, mas a partir de agora iniciamos uma nova etapa, com novos desafios em que a nossa responsabilidade aumenta ainda mais”, disse o ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde, Gilberto Silva, um dia após a classificação das ilhas cabo-verdianas do Fogo e do Maio como Reserva Mundial da Biosfera, a primeira do género do país.
A partir de agora, o ministro disse que o país vai ter uma “forte agenda de trabalho” para uma boa apropriação deste conceito a nível nacional e, especialmente, a nível da sociedade nas duas ilhas, para garantir a necessária visibilidade e promover esta distinção no país e no mundo inteiro.
“E assegurar uma boa gestão das duas reservas e tirarmos os proveitos necessários para o processo de desenvolvimento sustentável das ilhas”, enfatizou o governante, indicando que a agenda será elaborada até janeiro próximo, com muitas ações, a começar pela nomeação dos respetivos órgãos de gestão das respetivas reservas.
Em todo este processo, Gilberto Silva disse que o Governo quer contar com uma “forte parceria” dos respetivos municípios, das organizações da sociedade civil, do setor privado e das instituições de ensino e investigação.
Além disso, vão ser criados instrumentos de comunicação e divulgação das reservas, bem como a preparação de um plano de ação de cada uma, o que deverá acontecer até dezembro próximo, prosseguiu o ministro.
Também o país vai inscrever as reservas do Fogo e do Maio na rede de reservas africanas da Biosfera, que já conta com 28 países, um passo considerado “fundamental” pelo ministro para troca de informações técnicas e científicas, troca de experiências e cooperação.
O país vai também mobilizar parcerias para formação da equipa de gestão das reservas de biosfera, bem como “estabelecer cooperações bilaterais fortes” com reservas da biosfera que não se encontram no continente africano, designadamente nas ilhas da Macaronésia.
Para o ministro, não são apenas estas duas ilhas que têm condições para serem reservas mundiais da biosfera.
O governante sublinhou que o país vai agora ganhar experiência e pretende apresentar no futuro novas candidaturas de ilhas, como Santo Antão ou Brava.
“Nós entendemos que devemos ser cautelosos, ganhar experiência e avançar”, afirmou Gilberto Silva, para quem a população destas duas ilhas vai ganhar “muita coisa”, a começar pela autoestima.
Além disso, vão atrair mais investimentos, mais emprego e mais rendimento e melhores condições para o desenvolvimento sustentável das duas ilhas.
“As populações das duas ilhas e o país no seu todo têm muito a ganhar com esta distinção”, vincou o titular da pasta do Ambiente de Cabo Verde, para quem o maior desafio agora é estruturar e promover as reservas no país e no mundo.
Cabo Verde iniciou a candidatura das ilhas do Fogo e do Maio para as reservas munidias da Biosfera há cerca de três anos, tendo contado com apoio financeiro de Portugal de cerca de 25% dos 5 milhões de escudos (45 mil euros) que o Executivo investiu no processo, disse o ministro.
A classificação foi aprovada durante a 32.ª sessão do conselho internacional de coordenação do programa científico Homem e Biosfera (MaB – ‘Man and the Biosphere’) da Unesco, que está reunido desde terça-feira.
Cabo Verde juntou-se assim às 701 reservas mundiais da Biosfera já classificadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês).
O ministro da Agricultura e Ambiente disse que o Governo vai agora fazer os atos de lançamentos simbólicos das reservas nas ilhas, esperando mais uma vez contar com os municípios, as forças vivas.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, anunciou a aprovação e classificou a decisão como “um acontecimento histórico” para o arquipélago.
Sobre a classificação da ilha do Fogo, o conselho consultivo do MaB, num documento da 32.ª sessão a que a Lusa teve acesso, recorda que “é a mais jovem e única ilha com atividade vulcânica no sul do arquipélago de Cabo Verde”, sendo o vulcão que dá nome à ilha o ponto mais alto, a 2.829 metros de altitude.
Cobre uma área total de 102.000 hectares e a zona central integra o Parque Natural do Fogo, que tem 61 comunidades e uma população total de cerca de 37.000 habitantes e dedicam-se à fruticultura, produção de café e leguminosas, pecuária, pesca e turismo.
Já sobre a “plana” ilha do Maio, cujo ponto mais alto é o cume do monte Penoso (437 metros), a reserva proposta inclui toda a ilha e a zona marinha circundante, cobrindo uma área total de 73.972,43 hectares, distribuídos pelo Parque Natural da Ilha do Maio, Reserva Natural Lagoa do Cimi-dor, Reserva Natural da Praia do Morro, Reserva Natural das Casas Velhas, Paisagem Protegida do Barreiro e Figueira e Salina do Porto Inglês.
A ilha tem uma população de cerca de 7.000 habitantes, e as principais atividades económicas são o turismo, a agricultura, a produção de sal e o artesanato.