Caça excessiva de grandes animais frugívoros reduz capacidade das florestas para sequestrarem carbono



Os grandes animais que se alimentam de frutos, e dispersam as suas sementes, são aliados fundamentais das florestas, sobretudo das tropicais, ajudando-as a recuperar de perdas sofridas, a manterem a sua diversidade e, por isso, a captarem e armazenarem carbono no solo e na sua biomassa.

No entanto, a caça insustentável dessas espécies, como os elefantes, os gorilas, tapires e calaus, entre muitas outras, torna as florestas menos resilientes aos efeitos das alterações climáticas, como secas e doenças. Por isso, dois cientistas da Wildlife Conservation Society, uma organização não-governamental dedicada à conservação da vida selvagem, dizem que para evitar perder das florestas tropicais como aliados no combate à crise climática é preciso “conservar a vida selvagem”.

Num artigo publicado na ‘PLOS Biology’, os investigadores revelam que muitas das espécies de mamíferos e de aves visadas pela caça, legal e ilegal, são frugívoras e desempenham um serviço essencial de dispersão de sementes, especialmente de árvores de grandes dimensões que têm maior capacidade de sequestro de carbono.

Os calaus da espécie Buceros bicornis são predominantemente frugívoros, isto é, alimentam-se sobretudo de frutos. Como tal, ajudam a dispersar sementes e a manter as florestas biologicamente diversas.
Foto: Bikash Das / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

A dupla científica avisa que a redução da abundância e diversidade dessas espécies de animais selvagens poderá, com o tempo, provocar alterações profundas na composição das florestas tropicais. Sem os animais para dispersarem as sementes das árvores maiores, as sementes de árvores mais pequenas e com troncos menos densos, e por isso como menor capacidade para reter carbono, dominarão essas paisagens.

Elizabeth Bennett, uma das autoras, explica que a caça excessiva de animais nas florestas tropicais tem “efeitos prejudiciais nas espécies visadas, na biodiversidade em geral e nos modos de vida e bem-estar das comunidades locais”. E lamenta que “o impacto adverso da redução da fauna na capacidade das florestas tropicais para sequestrarem e armazenarem carbono” seja negligenciado.

John Robinson, que também assina o trabalho, destaca que “os animais desempenham um papel vital na manutenção da integridade” das florestas tropicais, pelo que “manter faunas intactas é um elemento crucial de qualquer estratégia para conservar florestas com vista a responder às alterações climáticas”.

Os especialistas recordam também que a perda de animais devido à caça “afeta diretamente” o sequestro de carbono nas florestas, “ao remover o carbono que está armazenado nos corpos dos animais”.

“Por exemplo, um elefante-da-floresta adulto retém cerca de 720 kg de carbono (2,64 toneladas de CO2). Os 11 mil elefantes mortos num único parque nacional no Gabão entre 2004 e 2012 representariam, assim, a perda de 7.920 toneladas de carbono armazenado, o equivalente a 29.040 toneladas de CO2”, pode ler-se no artigo.

Os conservacionistas alertam que grande parte dos esforços de restauro de florestas tropicais tende a focar-se na dispersão de sementes de árvores de menor porte, sendo que as espécies maiores estão “sub-representadas”, e isso limita “a capacidade das florestas restauradas para armazenar e sequestrar carbono”.

Embora existam já programas de créditos de carbono que têm como objetivo reduzir as emissões causadas pela degradação e destruição de florestas, como o REDD+, os autores dizem que o foco desses mecanismos deve ser ampliado de forma a incluir incentivos à preservação da vida selvagem, dizendo que, nesse campo, existe “uma oportunidade de mercado” que não está a ser aproveitada.

“A conservação de florestas bem geridas com as suas comunidades faunísticas completas contribui diretamente para a mitigação das emissões globais de carbono”, escrevem no artigo. “Por isso, valorizar explicitamente a vida selvagem pelo seu papel no sequestro e armazenamento de carbono nas florestas tropicais”, pode, na opinião destes cientistas, ser uma forma de financiar projetos de gestão, recuperação e conservação não só das espécies de animais de grande porte, mas também para assegurar “a saúde nutricional e o bem-estar das comunidades locais” em zonas com grande potencial de sequestro de carbono.





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