Câmaras fotográficas detetaram mais de 50 espécies em Bornéu (uma delas desconhecida)
Os mamíferos que habitam nas árvores da ilha de Bornéu, no sudeste da Ásia, continuam a ser pouco conhecidos pelos investigadores – ao contrário dos terrestres. No sentido de estudar melhor as espécies árboreas e semi-arbóreas da floresta tropical em Sabah, e de que maneira a ação humana as impacta no geral, uma equipa de cientistas decidiu utilizar uma abordagem de ‘armadilhas fotográficas’ colocadas no solo e nas copas das árvores.
Para o estudo, foram colocadas câmaras fotográficas em 50 locais da floresta, entre 2017 e 2019. No total, o grupo obteve mais de 8 mil fotografias, que resultaram na observação de 55 espécies de mamíferos, 30 observados apenas no solo, 16 observados apenas nas árvores, e 9 em ambos, entre os quais as macacos-de-rabo-de-porco (Macaca nemestrina), as martas-de-garganta-amarela (Martes flavigula) e os orangotangos-de-bornéu (Pongo pygmaeus).
Os investigadores conseguiram ainda alcançar novos feitos: tiraram a primeira fotografia existente do esquilo voador Pteromyscus pulverulentus, a única espécie do género Pteromyscus, e registaram um esquilo-voador do género Callosciurus que não corresponde a nenhuma das espécies conhecidas na ilha. Em simultâneo, foi possível confirmar a presença da Tupaia longipes nas árvores – quando anteriormente se pensava ser uma espécie apenas terrestre -, bem como analisar o comportamento de outros mamíferos acima do nível do solo.
“Durante muito tempo nós estudámos apenas o que estava no terreno porque foi tudo ao que realmente tivemos acesso. Mas o dossel [estrato superior das árvores] é muito importante e seria tolice ignorá-lo porque há muita coisa a acontecer lá em cima”, afirma Jessica Karen Haysom, estudante de doutoramento da Universidade de Kent, no Reino Unido, ao Mongabay.
Para os autores, este tipo de abordagem é uma mais valia no estudo comportamental das espécies que são difíceis de observar, por estarem no cimo das árvores.” Os nossos resultados soma-se ao pequeno mas crescente corpo de evidências de que, ao ignorar as comunidades arbóreas, estamos a perder insights cruciais sobre a verdadeira diversidade e sobre o significado funcional dos mamíferos da floresta tropical. As florestas tropicais são habitats complexos que cobrem vastas áreas horizontais e verticais, e com uma alta proporção de espécies que utilizam os estratos do dossel. Para compreender totalmente estes ecossistemas e, adicionalmente, preservá-los de forma eficaz, é vital que as investigações futuras incluam amostragens baseadas no dossel”, explicam no estudo, agora publicado na Frontiers, na categoria Florestas e Mudanças Globais.