Camboja: empresas energéticas vão inundar terras onde tribos vivem há milhares de anos



A construção de várias barragens ao longo do rio Mekong, que percorre 4.350 quilómetros e seis países diferentes, está a empurrar milhões de pessoas para fora das suas terras milenares e preocupar os 60 milhões de cidadãos que sobrevivem da sua água.

Uma das tribos afectadas é a Bunong, que vive numa zona remota do Camboja e vai ser afectada pela construção da barragem Sesan II, de acordo com o fotógrafo sul-africano Gareth Bright e o fotojornalista canadiano Lux Forsyth. Há dez meses que os dois viajam pelo Camboja, Vietname e Laos, num projecto pessoal – A river’s tail – que virou cruzada pelos direitos dos Bunong.

“Fomos contactados pela organização não-governamental Lien Aid, que nos propôs expandir a nossa viagem para cobrir todo o rio Mekong. Dentro de dias vamos para a China, pelo que o projecto [iniciado em Março de 2015] vai demorar pouco mais de um ano”, explicou Forsyth ao Vice.

Segundo o fotojornalista, os Bunong são agricultores que pouco dependem do exterior para manter o seu estilo de vida milenar – nem sequer guardam os porcos, porque sabem que eles acabarão por regressar todas as noites. “É um cenário muito rural, com pessoas que estão completamente atadas à sua terra e recursos naturais”, de acordo com o responsável.

Porém, em breve os terrenos habitados há centenas e milhares de anos pela mesma tribo ficará inundado. “Toda a aldeia ficará submersa dez metros”, explica Forsyth.

A empresa responsável pela construção da barragem, Sino Hydro, irá compensar os habitantes da aldeia, mas de forma desigual entre eles. Haverá também uma relocalização, mas ainda nenhum Bunong viu o novo local.

“As casas poderão parecer mais apelativas que as actuais, feitas de cimento em vaz de bambu. Poderão até ter electricidade, mas quando eles se mudarem não terão muitas oportunidades de emprego. E certamente não terão infra-estruturas como escolas ou hospitais”, esclarece.

“Depois de mudarem, muitas vezes, eles acham-se num local pior do que estava antes”, explica o responsável, que compara o futuro dos Bunnog com o de outras tribos que foram afectadas por situações idênticas no sudoeste asiático.

“O Laos já decidiu transformar-se na bateria do sudoeste asiático e vai construir entre 13 e 15 barragens no rio Mekong. O Camboja vai seguir o mesmo caminho. São dois dos mais pobres países da Ásia e precisam de se desenvolver – e os países mais ricos utilizaram as barragens para desenvolver as suas economias e necessidades energéticas”, continuou.

“Mas há uma verdadeira falta de cuidado nas baixas culturais e ambientais do planeamento de barragens no sudoeste da Ásia. Quando há relatórios que dizem que uma determinada localização vai destruir as populações humanas e animais, é preciso dar mais atenção ao futuro das gerações”, concluiu Forsyth.

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