Cegonhas portuguesas desistiram de migrar para se alimentarem nos aterros sanitários



As cegonhas portuguesas e espanholas estão a deixar de migrar para África devido à grande quantidade de comida encontrada nos aterros sanitários, uma tendência que está a desregular a vida destas aves.

Segundo um estudo publicado no jornal Movement Ecology, as cegonhas habitualmente dividem o seu tempo entre a Europa e Ásia, nas zonas de reprodução, e o Inverno africano. Ou melhor, era assim. As cegonhas costumavam migrar para África para evitar a ausência de alimentos, mais a Norte, no Inverno. No entanto, quando os alimentos estão à sua espera, em aterros ou lixeiras ilegais, elas deixaram de ter razão para sair do seu habitat.

“A população de cegonhas cresceu dez vezes, em Portugal, nos últimos 20 anos”, explicou a líder do estudo, Aldina Franco num comunicado citado pelo Mental Floss. “O país tem agora 14.000 aves no Inverno, sendo que os números continuam a crescer”.

A cegonha-branca (Ciconia ciconia) chegou a estar em declínio em Portugal, nos anos 70 e 80, mas esses eram outros tempos. O estudo da universidade East Anglia colocou pequenos equipamentos de GPS em 48 cegonhas-brancas em várias regiões do Alentejo e do Algarve, e seguiu-as durante vários meses.

“Descobrimos que os aterros permitem que as aves usem os ninhos ao longo do ano, o que é um comportamento completamente novo, surgido muito recentemente”, explica Aldina Franco. “Esta estratégia dá às cegonhas residentes a oportunidade de escolherem os ninhos mais bem localizados [em relação aos locais onde se alimentam] e de iniciarem mais cedo a reprodução”, sublinha.

As observações da equipa, que incluiu igualmente investigadores da Universidade de Lisboa, permitiram verificar que as cegonhas chegam a fazer viagens de ida e volta, entre o ninho e o aterro da região onde estão instaladas, da ordem dos cem quilómetros, para ali buscarem alimento durante os meses de inverno. Na época de reprodução, essas viagens encurtam para metade. “São distâncias bastante maiores do que supúnhamos”, garante Aldina Franco.

As novas diretivas europeias vão impor o fim dos aterros a céu aberto, pelo que o dia-a-dia das cegonhas terá novamente de se alterar. “As cegonhas vão ter de procurar uma alternativa para se alimentarem no inverno, o que pode vir a ter um impacto importante”, antecipa a bióloga.

Foto: Maltesen / Creative Commons





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