Cheias podem ameaçar segurança alimentar de mais de 5,6 milhões de pessoas em África, alerta novo estudo



O ano de 2022 já experienciou uma série de desastres naturais que vários observadores e cientistas atribuem, pelo menos em parte, às alterações climáticas causadas pelas ações humanas: cheias no Paquistão, ondas de calor e seca severa na Europa, no Médio Oriente, em África e na Ásia, incêndios de grandes dimensões nos dois lados do Atlântico e tempestades mais fortes no Pacífico e na América do Norte.

Um novo estudo, publicado na revista ‘Proceedings of the National Academy of Sciences’, dos Estados Unidos, revela agora que “as cheias podem afetar a segurança alimentar, quer no imediato, quer nos meses seguintes ao evento”, devido à destruição das culturas agrícolas.

A investigação debruça-se sobre o período de 2009 a 2020 e abrange países do ocidente, leste e sul de África, incluindo a Nigéria, o Níger, o Quénia, Moçambique e o Malawi, entre outros. Uma das principais conclusões é que cerca de 12% das populações que enfrentam insegurança alimentar nas áreas estudadas, ou seja, perto de 5,6 milhões de pessoas, foram afetadas pelas cheias registadas nesse mesmo intervalo de tempo.

Contudo, esses eventos climáticos extremos também tiveram resultados positivos em algumas regiões. “Os nossos resultados sugerem que as cheias podem ter efeitos opostos na segurança alimentar em diferentes escalas espaciais”, explica Weston Anderson, um dos autores do estudo.

“Num dado ano, o excesso de precipitação pode imediatamente gerar cheias que destroem as colheitas numa área, ao mesmo tempo que também podem estar associadas a condições de crescimento benéficas que aumentam a produção agrícola à escala nacional”.

Ainda assim, apesar dessa constatação, os cientistas alertam que os impactos positivos das cheias não são garantidos, e destacam a importância da adaptação e do investimento no reforço da resiliência dessas nações africanas estudadas aos efeitos das alterações climáticas.

O artigo destaca que as cheias afetam os países de forma diferente, com umas áreas mais afetadas dos que outras e que é preciso perceber quais as regiões e comunidades mais vulneráveis para que se possam implementar as medidas necessárias para protegê-las e tentar minimizar os impactos negativos das cheias.

Os investigadores argumentam que a relação entre as cheias e a segurança alimentar não se deve a “dinâmicas ao nível nacional”, como as flutuações dos preços dos alimentos, mas, sim, aos impactos na produção, no acesso e na utilização de alimentos.

“Compreender os impactos das cheias na segurança alimentar é cada vez mais importante para a comunidade humanitária”, afirma Andrew Kruczkiewicz, outro dos autores da investigação. E acrescenta que “com os resultados deste estudo, a comunidade humanitária está mais bem posicionada para decidir que ações (…) devem ser priorizadas” em situações de desastres naturais, em particular quando ocorrem cheias.

Citado em comunicado da Universidade de Nova Iorque, Jeffrey Mantz, dirigente na National Science Foundation, nos EUA, afirma que já se sabia que as cheias tinham impactos em várias escalas, afetando especialmente as comunidades mais vulneráveis, “mas este estudo clarifica e quantifica esses impactos” de forma a que seja possível reforçar a proteção e resiliência “de pessoas e comunidades que enfrentam eventos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes”.





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