Chimpanzés escolhem deliberadamente os materiais que usam para fazer ferramentas



Os chimpanzés na Tanzânia fazem escolhas deliberadas sobre os materiais que usam para construírem as suas ferramentas, como as que usam para aceder ao interior das termiteiras.

A conclusão é de uma investigação feita por uma equipa internacional de cientistas, que incluiu Susana Carvalho, investigadora ligada ao Centro Interdisciplinar em Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve e ao Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO/InBIO) da Universidade do Porto.

O trabalho foi liderado pela Universidade de Oxford em colaboração, além das instituições portuguesas, com o Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, a Universidade de Leipzig e o Instituto Jane Goodall na Tanzânia.

E centrou-se numa população de chimpanzés-comuns (Pan troglodytes) que vivem no Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia. Os cientistas queriam testar se esses primatas usavam os materiais mais adequados para chegarem às térmitas.

Através de experiências em campo, a equipa percebeu que os materiais vegetais nunca utilizados pelos chimpanzés eram 175% mais rígidos do que as espécies de plantas que preferiam usar. Uma vez que o interior das termiteiras é composto por inúmeros túneis serpenteantes, usar materiais mais flexíveis é uma vantagem, porque permite aos chimpanzés chegarem onde com materiais mais rígidos não conseguiriam.

“Esta é a primeira prova exaustiva de que os chimpanzés selvagens selecionam materiais de ferramentas para apanhar térmitas com base em propriedades mecânicas específicas”, afirma Alejandra Pascual-Garrido, investigadora da Faculdade de Antropologia da Universidade de Oxford e primeira autora do artigo publicado esta semana na revista ‘iScience’.

Como tal, a equipa sugere que os chimpanzés podem possuir algum entendimento de física, que se reflete nas preferências por certos materiais em vez de outros.

“Esta nova abordagem, que combina biomecânica com comportamento animal, ajuda-nos a perceber melhor os processos cognitivos por trás da construção de ferramentas dos chimpanzés e como eles avaliam e selecionam materiais com base nas suas propriedades funcionais”, explica Pascual-Garrido.

Ainda não se sabe ao certo como é que esse conhecimento é aprendido, mantido e transmitido de uma geração para outra, podendo, por exemplo, resultar da observação das progenitoras pelas suas crias. E também, de momento, não é certo se essas preferências estão também presentes no fabrico de outras ferramentas, como as que os chimpanzés usam para capturar formigas e para conseguirem aceder ao mel que está dentro das colmeias.

No entanto, os resultados deste trabalho podem também ajudar a compreender as origens das capacidades de uso e produção de ferramenta dos próprios humanos.

“Estas descobertas têm implicações importantes para a compreensão de como os humanos poderão ter evoluído as suas notáveis capacidades de uso de ferramentas”, diz Adam van Casteren, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva e um dos principais autores do artigo.






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