China: a líder mundial na transformação de excrementos em energia
Nos últimos anos, a Fundação Bill & Melinda gates investiu €1,3 milhões (R$ 4 milhões) em projectos para explorar a produção de biodiesel a partir de excrementos humanos no Gana, Tailândia e Índia. Outros países têm vindo a fazer experiências neste campo, mas nenhum está tão avançado como a China, alerta a Bloomberg.
De acordo com o site norte-americano, o cérebro por trás desta estratégia de reutilização de resíduos é Heinz-Peter Mang, um engenheiro alemão de 57 anos que trabalha com investigadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim em projectos de saneamento ecológico.
“O mundo tem muito a aprender com a China na forma como ela transforma resíduos em energia. Se não tivermos tabus em relação à reutilização de matéria fecal, a ciência pode ajudar-nos a reutilizar [excrementos] em segurança, à medida que mais pessoas chegam às cidades”, explicou à Bloomberg Mang, que vive desde 2005 em Pequim.
Todos os dias, cerca de 6.800 toneladas de excrementos de Pequim são tratados – o suficiente para encher três piscinas olímpicas. E com a chegada de cada vez mais pessoas às grandes cidades, os urbanistas e engenheiros têm que ser cada vez mais criativos para reutilizar estes resíduos – e a sua transformação em energia é uma das soluções mais interessantes, ao invés da incineração ou, simplesmente, de enviar estes resíduos para os rios ou enterrá-los.
O modelo utilizado na capital chinesa foi inspirado pelo sistema usado nas explorações pecuárias do país, que têm um tanque para dejectos humanos e animais. Depois de higienizado em parte, ao remover os sólidos do oxigénio, o que resta é convertido em adubo líquido para as próprias quintas.
Em Pequim, existe uma versão melhorada – e aumentada – deste modelo. Numa das estações de tratamento, cerca de 200 camiões descarregam 800 toneladas de excrementos fecais todos os dias. Os excrementos são enviados, através de um tubo, para uma máquina, onde materiais que não podem ser reciclados, como papel higiénico e sacos de plástico, são separados.
O resto vai para a separação: os resíduos sólidos são enviados para compostagem, para fermentarem a 60ºC durante dez dias. Este processo mata as bactérias perigosas e as lombrigas – ou outros parasitas que infectem os humanos – e transforma o excremento em fertilizantes para as árvores e vegetais. O material líquido é enviado para tanques que geram biogás.
Na China, as estações de tratamento de resíduos ecológicas deverão crescer entre 200 a 400% em volume nos próximos cinco anos.
Foto: SuSanA Secretariat / Creative Commons