China: explorar os recursos de hélio da Lua pode ajudar a resolver a crise energética terrestre
O pó do solo lunar trazido pelos primeiros humanos na lua continha uma abundância de titânio, platina e outros minerais valiosos. Mas o nosso satélite também contém uma substância que pode ser bastante útil à civilização humana e pode revolucionar a produção de energia.
Esta substância, o hélio 3 (He-3), é depositada na lua em vastas quantidades pelos ventos solares. O hélio 3 é um isótopo não radioactivo do hélio. Possui dois protões e um neutrão. A sua presença na Terra é rara, mas é uma substância bastante procurada para o uso na investigação de fusão nuclear. É também utilizada nos aparelhos de ressonância magnética e nos sensores que detectam plutónio contrabandeado.
Agora, a China está a considerar a possibilidade de explorar este recurso a partir do solo lunar, trazendo-o para a Terra. Segundo alguns cientistas, este isótopo raro pode vir a ter a capacidade de satisfazer as necessidades energéticas futuras do planeta, escreve o Times.
Ouyang Ziyuan, cientista chefe do Programa de Exploração Lunar chinês, afirmou recentemente que a lua é “tão rica em He-3 que esta substância pode resolver o problema da procura energética durante os próximos 10.000 anos pelo menos”, cita o Daily Mail.
Os cientistas argumentam que o He-3 pode alimentar as centrais nucleares, mas de forma limpa, já que é uma substância não radioactiva.
Por exemplo, duas naves espaciais carregadas com a substância – cerca de 40 toneladas – poderiam ser suficientes para satisfazer as necessidades energéticas dos Estados Unidos durante um ano. Isto requereria a exploração de áreas do tamanho de Washington D.C.
O He-3 é raro na Terra devido à atmosfera e ao campo magnético que nos protegem, mas que também evitam que o He-3 proveniente dos ventos solares chegue à superfície terrestre. A Lua não tem este problema, pois não tem atmosfera e o He-3 é absorvido pelo solo lunar.
Fabrizio Bozzato, doutorando na Universidade de Tamkan, em Taiwan, escreveu recentemente um artigo científico onde defende que o He-3 pode ser extraído do solo lunar a temperaturas na ordem dos 600 graus Celsius, antes de ser trazido para a Terra. O estudante estima que o gás tenha um potencial económico de €2,24 mil milhões por tonelada, o que torna economicamente viável ponderar explorar a Lua.
De acordo com peritos norte-americanos, o total necessário para o desenvolvimento das centrais nucleares e das naves espaciais, e para o iniciar das operações na Lua é de €14,9 mil milhões ao longo das próximas duas décadas.
Embora a China tenha já expressado o interesse para explorar este recurso é necessário apresentar antes planos concretos para explorar o He-3 na Lua.
Contudo, a exploração da Lua levanta questões controversas sobre quem detém o nosso satélite. O Tratado das Nações Unidas para o Espaço Exterior, do qual a China é signatária, indica que os recursos lunares são para toda a humanidade. Mas os peritos legais afirmam que a linguagem do tratado é ambígua o suficiente para permitir a exploração comercial da Lua.
Foto: NASA’s Marshall Space Flight Center / Creative Commons