Ciclones e manifestações destruíram quase 70 unidades de saúde no norte de Moçambique

Quase 70 unidades de saúde foram destruídas nos últimos três meses nos protestos pós-eleitorais e pelos ciclones que assolaram a província de Nampula, no norte de Moçambique, disse hoje fonte oficial.
“Tivemos o registo de um total de 78 infraestruturas do setor [da saúde] destruídas e destas, temos 68 unidades de saúde”, disse hoje o chefe do Departamento de Saúde Pública em Nampula, Geraldino Avalinho.
Segundo o responsável, a destruição das infraestruturas constitui um “desafio”, porque enfraquece o já limitado sistema da saúde da província, a mais populosa do país e que contava com apenas 249 unidades médicas para cerca de sete milhões de habitantes.
“Apesar da destruição destas unidades de saúde, nós continuaremos a oferecer, de forma condicionada, os nossos serviços. Além disso, vamos intensificar as nossas atividades de brigadas móveis (…) de modo a reduzir as distâncias”, acrescentou Geraldino Avalinho.
Nampula é uma das províncias mais afetadas pelos eventos extremos, como ciclones e tempestades, que provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
Moçambique está em plena época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, período em que foram já registados os ciclones Chido (dezembro), Dikeledi (janeiro) e Jude (março), que afetaram igualmente o norte do país.
Os ciclones atingiram o país entre dezembro do ano passado e janeiro último, com maior impacto nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, tendo afetado cerca de 736.000 pessoas e causado a destruição de infraestruturas públicas e privadas.
O Jude, o mais recente ciclone tropical, entrou em Moçambique na passada segunda-feira, através do distrito de Mossuril, em Nampula, tendo feito, até ao momento, pelo menos 16 mortos e mais de 302 mil afetados nas províncias de Tete, Manica e Zambézia, no centro de Moçambique, e Nampula, Niassa e Cabo Delgado, no norte do país.
De acordo com os dados oficiais, do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), há pelo menos 70.163 casas total ou parcialmente destruídas, outras 988 inundadas e 134 edifícios de culto afetados pelo ciclone Jude.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.
Além dos desastres naturais, Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas, primeiro, pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram a vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 357 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, mas também vários policias, de acordo com a plataforma Decide, uma ONG moçambicana que acompanha os processos eleitorais.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.