II Conferência Green Savers. Cidades inteligentes são cidades sustentáveis
As cidades do futuro serão sustentáveis e terão, obrigatoriamente, de ser inteligentes. Mas até lá ainda há um longo caminho a percorrer. Esta foi uma das conclusões da II Conferência Green Savers, subordinada ao tema “Smart Cities – o papel das cidades na sustentabilidade”, que decorreu, hoje de manhã, no Museu da Eletricidade, em Lisboa.
Pensar no futuro não é algo distante. Pensar no futuro das cidades é atuar no presente. E, para Pedro Ferreira, presidente na Future Energy Leaders Portugal, esta década será fulcral para Portugal. Para este executivo o país tem aqui uma oportunidade única, onde reúne uma população ativa com estudos superiores e capacidade para pensar o desafio. “É uma grande oportunidade para esta geração mostrar valor e trazer, através da inovação, novas ideias que possam mudar as cidades”, afirmou, acrescentando que, na sua opinião, um dos grandes desafios das cidades, no futuro, é o serem atrativas. Atrativas para quem lá reside. Isso significa que não só o setor público, mas, também o privado, “têm de criar as condições para serem atrativas, não só do ponto de vista cultural, mas também profissional, por exemplo”. Ou seja, haver boas empresas com capacidade para reter talento e que, assim, possam permitir fixar pessoas nessas cidades, que não só os grandes centros urbanos. “Temos de pensar territorialmente o país”, afirmou o presidente na Future Energy Leaders Portugal. Quer isto dizer que é necessário existir uma estratégia nacional, delineada a longo prazo. Porque as cidades inteligentes vão permitir combater as alterações climáticas, mas, também, contribuir para atenuar as desigualdades sociais.
Tipicamente quando se fala em smart cities (ou cidades inteligentes) a primeira coisa que vem à mente é a utilização da tecnologia, ou mesmo novas formas de mobilidade. Mas as cidades do futuro querem-se mais do que isso. Como referiu Alexandra Azevedo, presidente da Quercus, as cidades do futuro têm de ser espaços onde as crianças possam viver, onde a natureza possa coexistir com o ser humano. A mesma avisou que as pessoas têm de ajudar a cuidar do espaço de forma mais participada. Trata-se de um trabalho contínuo e mobilizador e onde as autarquias têm aqui um papel muito importante, pela sua proximidade com os cidadãos.
Mas, para isso, e na opinião de Ana Perdigão Antunes, arquiteta A3 no Atelier Academia de Arquitectura, o ser humano (e a arquitetura) tem de se reaproximar da natureza. Algo que já começa a ser feito, na bioarquitetura, por exemplo. O ideal é não olhar apenas para o habitáculo, mas também para a envolvente do projeto, assim como a natureza que lá está. “E fazer com que ela seja parte do nosso projeto”, constatou, acrescentando que o papel do arquiteto é o de conhecer a comunidade, o cliente, o local e a natureza, que envolve e vai influenciar o projeto.
Falar de smart cities tem, obrigatoriamente, de mencionar o tema da mobilidade elétrica. Que, segundo Teresa Ponce de Leão, presidente da LNEG e APVE, em Portugal não é nem uma realidade nem uma ação de marketing. “A mobilidade elétrica é uma obrigação de todos”. A prova é que é uma das prioridades definidas pela Comissão Europeia, a par da eficiência energética. Sendo que dentro da eletrificação dos sistemas de energia, um dos objetivos passa pela eletrificação dos transportes passíveis de serem eletrificados. Sem esquecer que, já na COP26 os países comprometeram-se a, a partir de 2035, não vender veículos que não elétricos. Na semana passada a Comissão Europeia definiu novas metas – que, na prática, aceleram as medidas anteriormente estabelecidas – por forma a proporcionar uma maior independência energética (ou melhor dizendo, a tentar diminuir a dependência face à Rússia). Quer se queira, quer não, a transição para as viaturas elétricas “é um caminho que se está a fazer, com algumas obrigatoriedades”. Quanto aos consumidores portugueses, a opinião de Teresa Ponce de Leão é que o preço das viaturas é o único entrave a uma maior massificação.
A revolução tem de ser feita a nível local. Esta é a opinião de Rui de Oliveira Neves, sócio na Morais Leitão, que considera ser um aspeto fulcral, nomeadamente ao nível da gestão e ordenamento do território. Por muito que se defina estratégias nacionais estas não conseguem obter resultados sem a ação e a dinâmica local. “É ao nível local que a revolução tem de ser realizada neste sentido que é através da transformação comportamental dos cidadãos que se consegue, nomeadamente, atingir os objetivos de descarbonização”. Isto significa, para o advogado, que tem de haver, do ponto de vista regulatório, uma aliança entre o que é a dimensão nacional dos objetivos e o que é a implementação regional, local, desses mesmos objetivos.
Cascais, um exemplo a seguir
Uma das melhores formas de avançar em qualquer temática é olhar para as boas práticas, é observar casos de sucesso, apreender as medidas e transpô-las para a “nossa” realidade. E Cascais é um desses casos de sucesso. Luís Almeida Capão, presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, mostrou algumas das medidas levadas a cabo pelo município e que o colocam na vanguarda de uma cidade inteligente. Desde a aposta em ter árvores em vários locais, não só porque são espécies que ajudam a regular a temperatura e dão inclusive sombra – às pessoas e aos veículos que estão estacionados. Isto significa que as viaturas ficam mais frescas e, por isso, gastam menos eletricidade. Isto também é ser uma cidade inteligente. É proporcionar todo um conjunto de ferramentas e serviços que proporcionem uma melhoria na qualidade de vida de quem lá vive.
Outro exemplo claro é a gestão dos resíduos, de incidentes, a recolha de monos… várias situações que, quando acontecem, incomodam e prejudicam os cidadãos, mas que, através de uma boa interação com os serviços é possível agilizar a correção desses mesmos incidentes. A cidade agradece e os cidadãos também.