Cientistas alertam que próxima pandemia poderá esconder-se nas fábricas de produção de peles de animais



Depois da pandemia global de COVID-19, muito se tem conjeturado sobre próximos surtos virais e de onde poderão surgir. O aumento da desflorestação e o tráfico de animais selvagens, que colocam em contacto com os humanos espécies que podem transportar patógenos potencialmente prejudiciais, têm sido apontados como a provável fonte de novas pandemias.

No entanto, especialistas em doenças infeciosas da Imperial College London alertam que a maior ameaça à saúde pública mundial poderá esconder-se nas fábricas de produção de animais para a extração de peles e pêlo, sobretudo de visons-americanos (Mustela vison).

Num artigo de opinião divulgado esta semana na revista científica ‘PNAS’, Thomas Peacock e Wendy Barclay argumentam que, embora muito se escreva sobre a crueldade deste tipo de práticas, pouco se tem falado sobre “os perigos para a saúde humana e animal” da produção industrial de animais para a extração de peles e pêlo.

Nas fábricas de produção industrial de peles, usadas na criação de peças de vestuário vendidas por preços exorbitantes, os animais são mantidos em condições degradantes. Em vários países, a prática foi banida sob a bandeira da proteção dos direitos dos animais.
Foto: Otwarte Klatki / Wikimedia Commons

Os especialistas explicam que essas práticas acontecem “em ambientes repletos de animais que permitem a rápida propagação de vírus com potencial pandémico”. Para eles, a produção industrial de visons, mais do que qualquer outra espécie, “representa um risco para a emergência de futuros surtos de doenças e para a evolução de futuras pandemias”.

A prática da criação industrial de visons com vista à extração de peles e pêlo para fabricar peças de vestuário, por exemplo, acontece um pouco por todo o mundo, desde a Europa, à América do Norte, passando pela China. E os visons, segundo os investigadores, são a espécie mais visada por este tipo de atividade.

Peacock e Barclay escrevem que a biologia dos visons faz deles “uma espécie intermediária” na qual os patógenos, como vírus, podem evoluir a capacidade para infetar os humanos, e lamentam que até agora não tenha sido prestada a devida atenção a este problema, apesar de em 2020, académicos e agências governamentais na Europa e na América do Norte terem alertado “repetidamente”, dizem eles, para o facto de os visons mantidos em instalações de produção de peles terem sido infetados pelo SARS-CoV-2, o vírus que deu origem à pandemia de COVID-19.

A dupla acusa a indústria de não implementar as medidas de biossegurança necessárias para impedir que os surtos virais que surjam nessas instalações possam disseminar-se para as comunidades envolventes.

Embora as variantes do SARS-CoV-2 que ainda circulam nas fábricas de produção industrial de visons já não se encontrem nos humanos, os autores alertam que esses patógenos podem continuar a evoluir, representando uma potencial “bomba-relógio para a reemergência do vírus nos humanos”.

A produção industrial de visons tem sido proibida em vários países europeus e em alguns estados norte-americanos, sobretudo devido às preocupações éticas sobre o tratamento a que os animais são sujeitos e às condições degradantes em que são mantidos. Agora, estes dois investigadores apelam aos governos de todo o mundo que erradiquem a prática de uma ver por todas para que se possam evitar novas pandemias, ou para pelo menos reduzir a probabilidade da sua ocorrência.





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