Cientistas criam protetor solar à base de pólen que não prejudica os corais

Os protetores solares ditos “tradicionais” podem afetar negativamente a vida marinha por causa dos químicos que contêm para bloquear a radiação ultravioleta. Esses componentes, como a oxibenzona e o octinoxato, libertam-se da pele dos banhistas quando em contacto com a água e entram nos ecossistemas, com potencial para causarem sérios danos.
Estudos anteriores já mostraram que esses químicos afetam o desenvolvimento dos corais e levam ao seu branqueamento, deixando-os vulneráveis a infeções potencialmente fatais. Em 2022, num artigo publicado na ‘Science’, revelou que o contacto com a oxibenzona faz com que as células dos corais, e também das anémonas, produzam toxinas que debilitam e acabam por matar esses animais.
Essa constatação levou à proibição de protetores solares que contenham componentes como a oxibenzona em alguns locais turísticos, como nos parques marinhos no México. Então, qual é a alternativa para que os banhistas possam proteger a sua saúde e a dos ecossistemas onde desfrutam as suas férias de verão? A resposta pode estar no pólen.
Um grupo de cientistas liderado pela Nanyang Technological University, em Singapura, diz ter criado um protetor solar à base de pólen de flores de camélia que absorve e bloqueia a radiação ultravioleta de forma tão ou mais eficaz quanto os produtos disponíveis atualmente nas superfícies comerciais.
Em experiências laboratoriais, os investigadores perceberam que os protetores solares convencionais causavam o branqueamento de corais em apenas dois dias, e à sua morte em seis. Por outro lado, o protetor à base de pólen não afetou os corais, que se mantiveram vivos e saudáveis.
Além disso, diz a equipa, num artigo publicado na revista ‘Advanced Functional Materials’, que o protetor solar que criaram até ajuda a reduzir a temperatura superficial da pele.
De acordo com Nam-Joon Cho, primeiro autor do estudo, os grãos de pólen são “naturalmente resistentes” à radiação ultravioleta, uma vez que a sua “cápsula” externa, a exina, tem de proteger o conteúdo genético no interior das condições ambientais adversas, incluindo a luz solar, assegurando que o grão se mantém intacto.
“Queríamos desenvolver um protetor solar natural acessível e eficaz que não causasse alergia nos humanos e fosse amigo do ambiente”, salienta.
Segundo os seus criadores, este protetor solar tem a forma de um gel que, quando aplicado, tem uma espessura inferior a um cabelo humano e é transparente, e que pode ser uma grande ajuda nos esforços de conservação dos ecossistemas marinhos, aos quais chegam todos os anos milhares de toneladas de protetor solar convencional, prejudicando não apenas os corais, mas toda a rede de vida que em torno deles se forma.