Cientistas culpam alterações climáticas pela devastação de milhares de ninhos de aves marinhas na Antártida



Entre dezembro e janeiro, diversas aves marinhas na Antártida habitualmente constroem os seus ninhos e depositam os seus ovos. No entanto, uma série de fortes tempestades no final de 2021, que causaram nevões intensos, fizeram praticamente desaparecer todos os ninhos, prejudicando a capacidade de reprodução de três espécies: o moleiro-do-sul (Stercorarius maccormicki), o petrel-do-antártico (Thalassoica antarctica) e o petrel-das-neves (Pagodroma nivea).

Moleiro-do-sul (Stercorarius maccormicki).
Foto: Paride Legovini / Wiki Commons

Uma equipa de cientistas da Noruega, do Reino Unido e de França descobriram que duas das maiores colónias de petrel-do-antártico de todo o mundo, situadas nas regiões antárticas de Svarthamaren e Jutulsessen, que costumavam conter centenas de milhares de ninhos dessa espécie, durante a época de reprodução de 2021/2022 estavam praticamente vazias. Esses são também dois locais de grande importância para a reprodução do petrel-das-neves e do moleiro-do-sul.

“Sabemos que as colónias de aves marinhas perdem algumas crias e ovos quando há uma tempestade, e o sucesso da reprodução é menor”, explica Sebastien Descamps, investigador do Instituto Polar Norueguês e principal autor do artigo publicado na revista ‘Current Biology’.

Petrel-do-antártico (Thalassoica antarctica).
Foto: François Guerraz / Wiki Commons

No entanto, as tempestades fizeram com que “dezenas, ou mesmo centenas de milhares de aves” não foram capazes de se reproduzirem. “Ter um sucesso de reprodução nulo é realmente inesperado”, confessa, apontando que as tempestades extremas não afetaram apenas uma colónia isolada, mas abateram-se sobre “colónias ao longo de centenas de quilómetros”.

Estas aves fazem os seus ninhos no solo ou em reentrâncias nas rochas, o que faz com que nevões intensos, como os que aconteceram no período em estudo, cubram a terra de espessas camadas de neve, tornam praticamente impossível a nidificação. Além disso, a energia que estas espécies deveriam ter despendido na reprodução, acabou por ser canalizada para a procura de abrigo e para impedir a queda da temperatura corporal.

Petrel-das-neves (Pagodroma nivea).
Foto: Akulovz / Wiki Commons

Os cientistas acreditam que as alterações climáticas, impulsionadas pelas atividades humanas, são o culpado deste desastre ecológico. “Até recentemente, não havia sinais óbvios do aquecimento global na Antártida, exceto na península”, argumenta Descamps, “mas nos últimos anos, têm havido novos estudos e novos eventos climáticos extremos que começaram a mudar a forma como vemos as alterações climáticas na Antártida”.

Embora considerem que este evento não coloca em risco a sobrevivência destas espécies, pois nidificam noutros pontos desse continente gelado, os autores do artigo alertam que, ainda assim, colocará ainda mais pressão sobre as colónias destas aves marinhas.

“Acredito que o nosso estudo mostra, de forma muito clara, que estes eventos climáticos extremos têm um impacto muito forte nas populações de aves marinhas e os modelos climáticos preveem que a severidade destes eventos extremos continuará a aumentar”, avisa Descamps.





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