Cientistas da Universidade de Coimbra usam resíduos de plantas invasoras para criar condicionador de cabelo amigo do ambiente
O interesse dos consumidores por produtos mais amigos do ambiente é cada vez maior e, por isso, a indústria está a procurar investir em produções e métodos mais sustentáveis.
O encalço desta tendência, uma equipa de cientistas do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a desenvolver um condicionador de cabelo a partir de resíduos agroflorestais e de espécies invasoras.
O projeto ‘Lignin for hair’, segundo Luís Alves, investigador do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) do DEQ, “pretende preparar novos derivados catiónicos da lignina para serem usados como condicionadores nos produtos capilares e assim, constituírem uma melhor alternativa aos agentes tradicionais”.
E a lignina “será obtida por extração de materiais lignocelulósicos por via de procedimentos ambientalmente mais eficientes e sustentáveis”, explica o investigador, apontando que “a lignina, o segundo polímero mais abundante em materiais lignocelulósicos, como a madeira, serve como ‘cola’ de todos os constituintes desses materiais”.
Apesar de estar ainda a dar os primeiros passos, o projeto já apresenta alguns avanços positivos. “Já temos resultados relacionados com o processo de fracionamento com recurso a solventes de origem sustentável, baseado no conceito de economia circular uma vez que um deles é obtido a partir da madeira”, revela a equipa do DEQ.
No entanto, para chegar ao produto final será necessário “extrair e caracterizar a lignina a partir de resíduos agroflorestais ou de espécies invasoras explorando solventes com componentes de origem natural. Numa segunda fase, a lignina extraída será quimicamente modificada de modo a interagir com as fibras capilares e promover o efeito condicionador. Nesta modificação também serão priorizadas metodologias sustentáveis. Já a terceira fase será dedicada à avaliação da eficácia do produto”.
Os investigadores acreditam que este produto “poderá ter um elevado impacto na indústria do cuidado capilar, uma vez que vai permitir a substituição de compostos produzidos a partir de matérias-primas não renováveis, como o petróleo, e outras obtidas a partir de matérias-primas necessárias na alimentação humana e animal, como o óleo palma”.
O ‘Lignin for hair’, projeto que terá a duração de 18 meses, é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e conta com a participação de investigadores do DEQ e da Universidade do Algarve.