Cientistas descobrem alternativa aos “químicos eternos”

Até agora, acreditava-se que o flúor – o elemento presente nesses produtos que forma uma barreira altamente eficaz entre substâncias como o ar e a água, tornando-os repelentes à água – não podia ser facilmente substituído devido às suas propriedades únicas.
Mas os cientistas da Universidade de Bristol, no Reino Unido, da Universidade de Hirosaki, no Japão, e da Universidade Côte d’Azur, em França, descobriram que o atributo “volumoso” único do flúor, que o torna especialmente bom a preencher o espaço, pode efetivamente ser reproduzido numa forma diferente e não tóxica.
O coautor principal, Professor Julian Eastoe, da Escola de Química da Universidade de Bristol, afirma: “Desde espuma de combate a incêndios a mobiliário, embalagens de alimentos e utensílios de cozinha, passando por maquilhagem e papel higiénico, os produtos PFAS estão em todo o lado. Apesar dos riscos para a saúde humana e do facto de não se degradarem, as substâncias perfluoroalquílicas persistem no ambiente e a descoberta de uma alternativa com propriedades comparáveis tem-se revelado difícil. Mas após muitos anos de investigação intensiva, fizemos um grande avanço”.
Os resultados da sua descoberta foram publicados num estudo que analisa a estrutura química dos PFAS e identifica o “volume” caraterístico que procuraram reproduzir numa forma mais segura. Demonstra também como os componentes não fluorados, que contêm apenas carbono e hidrogénio não tóxicos, poderiam ser substitutos igualmente eficazes.
O Professor Eastoe afirma: “Através de extensa experimentação, verificou-se que estes fragmentos “volumosos” estão presentes noutros sistemas químicos comuns, como as gorduras e os combustíveis. Assim, pegámos nesses princípios e criámos produtos químicos modificados, que têm estes atributos positivos e são também muito mais seguros”.
“Utilizando os nossos laboratórios especializados em síntese química, substituímos o flúor dos PFAS por determinados grupos que contêm apenas carbono e hidrogénio. Todo o processo demorou cerca de 10 anos e as implicações são muito significativas, sobretudo porque o PFAS é utilizado em muitos produtos e situações diferentes”, explica.
Os investigadores tencionam agora utilizar estes princípios descobertos em laboratório para conceber versões comercialmente viáveis de substitutos dos PFAS.
O coautor, Professor Frédéric Guittard, da Université Côte d’Azur, Nice, conclui: “Estes novos resultados são de grande interesse para os investigadores industriais e académicos. Estamos agora a trabalhar com empresas em França e na China para levar estas ideias para o mercado”.