Cientistas descobrem mecanismo que pode tornar culturas agrícolas mais resilientes à falta de água
A água doce é um recurso cada vez mais escasso. As alterações ambientais provocadas pela ação humana ao longo de séculos têm alterado padrões de pluviosidade e drenado os solos daquela que ainda vai resistindo.
Mas a falta de água não é um fenómeno exclusivamente antropogénico, existindo naturalmente na história da Terra. Por isso, as plantas tiveram de desenvolver formas de conseguirem chegar até ela mesmo quando a superfície está praticamente seca.
Investigadores da Shanghai Jiao Tong University (China) e a Universidade de Nottingham (Reino Unido) descobriram como é que as plantas conseguem adaptar-se à escassez de água, estendendo o seu sistema radicular para alcançar maiores profundidades do solo.
Num artigo divulgado este mês na publicação científica ‘Current Biology’, explicam que uma hormona vegetal conhecida como ácido abcísico, ou pela sigla inglesa ABA, influencia o ângulo de crescimento das raízes de espécies de plantas como o arroz e o milho. Tal poderá também ocorrer noutras espécies graníferas e com importância económica e para a segurança alimentar humana.
Ao fazerem as raízes crescer mais perpendiculares à superfície do solo, o ABA permite que as raízes das plantas alcancem camadas mais profundas, aumentando as hipóteses de encontrarem água.
Este efeito, de acordo com os investigadores, é conseguido através da interação do ABA com uma outra hormona vegetal, a auxina. Para testarem a hipótese, inibiram a produção de ABA em algumas plantas e perceberam que esses espécimes desenvolviam raízes mais superficiais e mais paralelas à superfície do solo quando comparados com plantas produtoras de ABA.
Foi ainda descoberto que a interação entre o ABA e a auxina é fundamental para que as plantas consigam aprofundar as suas raízes, uma vez que, ao adicionarem auxina às plantas impedidas de produzir ABA, foi possível recuperar o normal crescimento radicular, “mostrando que a auxina é chave neste processo”, declaram em comunicado.
De forma simples, pensa-se que o stress causado às plantas pela falta de água no solo estimula a produção de ABA, que por sua vez catalisa a produção de auxina que faz com que as raízes cresçam no sentido da força da gravidade (gravitropismo), criando sistemas radiculares para perpendiculares à superfície do solo e, assim, tornando as plantas mais resilientes à seca.
Os cientistas acreditam que ao compreender como as plantas se adaptam a condições ambientais adversas, como a escassez de água, permitirá desenvolver formas de torná-las mais resilientes a esses efeitos e, assim, a minimizar as consequências das crises planetárias na produção e segurança alimentares.
“Descobrir formas de combater a insegurança alimentar é vital”, afirma Rahul Bhosale, um dos autores do artigo, para quem, quanto mais conhecimento tivermos sobre os mecanismos que controlam o crescimento das plantas, mais facilmente conseguiremos criar formas de estimulá-lo e, assim, de melhorar a produtividade das culturas agrícolas, mesmo em condições de seca.