Cientistas dizem que para travar declínio dos insetos é preciso ir além das abelhas e borboletas

Estima-se que 75% das populações de insetos tenham desaparecido nos últimos 30 anos, o que alguns chamam de “o apocalipse dos insetos”. E o declínio desses animais continua em força, levando preocupações sobre o funcionamento dos ecossistemas e até sobre a segurança alimentar humana.
A agricultura, especialmente práticas insustentáveis e prejudiciais, como o uso de produtos químicos tóxicos, e não só, é apontada como a principal ameaça à sobrevivência dos insetos. Mas uma nova investigação revela que não é a única.
Uma equipa liderada pela Universidade de Binghamton (Estados Unidos da América) analisou mais de 175 estudos científicos sobre o declínio dos insetos, contendo mais de 500 hipóteses sobre os fatores que o estão a causar.
A revisão desses trabalhos resultou num artigo, publicado esta semana na revista ‘BioScience’, no qual os autores afirmam que a causa mais citada para o declínio dos insetos é, de facto, a intensificação agrícola, especialmente associada a mudanças do uso dos solos e a inseticidas.
Contudo, os investigadores dizem que é mais complicado do que isso. Por exemplo, as alterações climáticas podem ser um fator de ameaça, mas dentro dessa categoria cabem muitos outros fenómenos, como incêndios, temperaturas extremas e chuva torrencial, que, por sua vez, podem influenciar outros fatores que afetam a sobrevivência dos insetos.
“É uma rede altamente conectada e sinergética”, dizem os autores deste artigo, e algumas potenciais causas do declínio são muitas vezes esquecidas.
“Nenhum dos artigos mencionava os desastres naturais”, aponta Eliza Grames, uma das principais coautoras, acrescentando que nenhum deles se debruçava também sobre os efeitos da perturbação humana ou sobre os impactos das guerras ou das estradas.
“Assim, existem estas grandes áreas que sabemos que, em geral, constituem ameaças à biodiversidade, mas a literatura sobre o declínio dos insetos centra-se apenas em alguns grandes fatores de stress”, salienta a investigadora.
Estes investigadores dizem ainda que parece que as atenções dos cientistas estão demasiado focadas em alguns insetos “populares” ou “carismáticos”, como as abelhas e as borboletas, o que, argumentam, limita o conhecimento sobre o declínio do grupo mais vasto dos insetos e sobre o que é preciso fazer para combatê-lo.
“Como as pessoas se têm concentrado tanto nos polinizadores, como as abelhas e as borboletas, estamos limitados na identificação de ações de conservação que beneficiem outros insetos”, destaca Grames.
Os autores deste artigo defendem que, para combater efetivamente o declínio dos insetos, é preciso ampliar o leque de espécies estudadas e também considerar outras causas, indo muito além da agricultura.
Para Christopher Halsch, primeiro autor, uma das principais mensagens deste trabalho de revisão do conhecimento científico existente sobre o declínio dos insetos é que “as ações de conservação excessivamente orientadas para certos insetos ou certos fatores de stress serão provavelmente negativas para muitos outros insetos”.
“Se nos focarmos demasiado nas abelhas ou nas borboletas e na sua conservação, deixaremos passar muitas outras espécies, a maioria delas, na verdade”, avisa.