Cientistas filmam, pela primeira vez, orca a caçar tubarão-branco sozinha



Uma orca foi observada, pela primeira vez, a perseguir, a caçar e a consumir um tubarão-branco, sozinha e sem a intervenção de qualquer outra orca. Tudo em menos de dois minutos.

A interação foi filmada, em junho de 2023, por uma equipa de cientistas na Baía Mossel, ao largo da costa de África do Sul, no que dizem ser a documentação de um comportamento inédito, uma vez que as orcas são conhecidas por caçarem em grupo, recorrendo a táticas complexas e à cooperação com outros membros do grupo.

O indivíduo em questão, um macho adulto batizado com o nome Starboard, foi avistado a predar um tubarão-branco juvenil de 2,5 metros de comprimento. Conseguiu incapacitar a presa e, depois de consumi-lo, partiu, com o fígado do tubarão na boca.

Segundo Alison Towner, da Universidade Rhodes e principal autora do artigo que dá conta da descoberta, afirma, em comunicado, que o comportamento desta orca revela “a excecional proficiência da orca”.

Um outro tubarão-branco foi encontrado morto um dia após a interação invulgar ter sido filmada, e os investigadores acreditam que tenha também sido caçado por orcas. Além da orca observada no momento de caça, foi avistado outro macho adulto, a cerca de 100 metros, mas não esteve envolvido na caçada captada em filme.

Tanto as orcas como os tubarões-brancos são predadores de topo, mas em 2022 Towner e colegas haviam já revelado que um par de orcas caçavam esses tubarões desde 2017 ao largo da costa sul-africana, incluindo o macho Starboard, e conseguiram filmar uma das caçadas. Já nessa altura, os cientistas tinham percebido que as baleias mostravam preferência por extrair e consumir o fígado das presas, rico em gorduras.

Alison Towner e a sua equipa sugerem que o comportamento poderá estar a disseminar-se pela população de orcas de África do Sul, quando antes se pensava que estaria limitado a alguns indivíduos.

Os cientistas documentaram também como os tubarões parecem estar a adaptar os seus comportamentos para tentar escapar às investidas das orcas que os caçam. Em duas ocasiões, as orcas aproximaram-se lentamente do tubarão e este, em vez de fugir, permaneceu perto delas, mantendo-as no seu campo de visão, e perfazendo círculos em torno delas. Acredita-se que, dessa forma, os tubarões tentam inviabilizar uma tática de caça comum das orcas, em que formam um círculo em torno da presa para encurralá-la e capturá-la.

Depois dos ataques, os tubarões desapareceram da área onde decorreu a caçada, indicando uma resposta de fuga. Alison Kock, coatutora deste artigo, admite alguma preocupação, argumentando que as orcas estão a obrigar os tubarões a abandonarem os seus habitats-chave, possivelmente afetando todo o ecossistema, bem como prejudicando o turismo de observação desses predadores marinhos.

As orcas são animais altamente sociais, vivendo em sociedades dominadas pelas fêmeas, e revelam culturas próprias que podem diferir de população para população. Os indivíduos mais velhos transmitem aos mais novos conhecimentos sobre o ambiente e sobre táticas de caça. Por isso, os cientistas consideram que se a predação de tubarões for adotada por mais orcas, os impactos sobre as populações de tubarões poderão ser ainda maiores e não se sabe ainda que consequências podem daí resultar.





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