Cientistas ingleses descodificam o mistério dos “animais estranhos” de Darwin
Nos anos 30 do século XIX, quando Charles Darwin visitou a América do Sul a bordo do HMS Beagle, o cientista descobriu fósseis de vários mamíferos “estranhos” – uma espécie de camelo sem bossa e com um longo focinho – macraunechia; ou um rinoceronte com cabeça de hipopótamo e dentes de roedor – toxodon. “É talvez um dos mais estranhos animais alguma vez descobertos”, escreveu Darwin.
Desde então – e já passaram quase 200 anos – ninguém tinha conseguido perceber onde estes dois animais encaixavam na família dos mamíferos. Até agora. Ao analisarem antigas proteínas de colagénio com 12.000 anos, investigadores acreditam ter não só resolvido este mistério mas também outros, uma vez que estas proteínas podem revolucionar o estudo de espécies há muito extintas, revelando os segredos de fósseis com milhões de anos.
Estas criaturas viveram durante 60 milhões de anos – desapareceram há cerca de 12.000 – e fazia parte de um longo grupo de mais de 250 mamíferos sul-americanos.
A nova investigação foi feita por Ian Barnes, biólogo do Natural History Museum, em Londres, e o bioarqueólogo Matthew Collins, da Universidade de York, também no Reino Unido. Ambos lideraram uma equipa que tentou extrair o colagénio, uma proteína que sobrevive até dez vezes mais tempo que o DNA e é uma componente estrutural do osso.
A equipa construiu uma árvore de família do colagénio, com as devidas sequências para cada mamífero com base na sua relação familiar. Neste processo, eles retiraram e sequenciaram colagénio dos tapires, hipopótamos a aardvarks para construir essa imagem. Depois, construíam uma sequência com os dois toxodon e os dois macrauchenia descobertos por Darwin e compararam com a árvore de família já desenvolvida.
Assim, e embora se pensasse que estes indivíduos pertenceriam à família dos Afrotheria, com os elefantes, a sequência de proteínas colocou-os perto dos Perissodactyla, juntamente com os cavalos, tapires e rinocerontes. O estudo foi publicado no jornal Nature, explicou o Scientific American.
“Este estudo é um grande passo em frente”, explicou Rob Asher, paleobiólogo da Universidade de Cambridge que não fez parte da equipa. Agora, os biólogos podem começar a perceber como evoluíram as características físicas dos fósseis.
O responsável ainda não se convenceu se as proteínas antigas poderão ser tão revolucionárias como o DNA, mas ele descreve o potencial como “muito interessante”. E para as espécies que se tornaram extintas nos últimos milhões de anos, acrescenta, “isto pode ser revolucionário”, completou.
Foto: Robert Bruce Horsfall / Wikimedia Commons