Cientistas revelam como o aquecimento dos oceanos está a ameaçar as esponjas-do-mar



As esponjas-do-mar, tal como os corais, são fundamentais para os ecossistemas marinhos, para a sua saúde e biodiversidade. Além de criarem refúgios para inúmeras espécies animais e vegetais, são peças importantes do ciclo de nutrientes, filtrando milhares de água todos os dias, e abrigam microrganismos de grande importância para a investigação médica.

No entanto, o aumento da temperatura dos oceanos pode vir a retirar da equação esses animais, muitas vezes considerados, por muitos de nós, como meros adereços da paisagem submarina.

No entanto, as esponjas são dos animais mais antigos do planeta, estimando-se que tenham surgido há 545 milhões de anos. Podem ser encontradas em particamente todos cantos da Terra, desde as águas tropicais às que circundam os polos, e vivem em simbiose com microrganismo que as ajudam a obter energia e nutrientes e até as protegem de predadores e doenças.

Um grupo de investigadores da Austrália e da Nova Zelândia debruçou-se sobre a esponja-do-mar Stylissa flabelliformis, recolhendo espécimes no Recife de Davies, ao largo da costa australiana, e descobriu que quando a temperatura marinha aumenta essas esponjas perdem um dos principais microrganismos com o qual desenvolveram, ao longo sua história evolutiva, uma relação simbiótica e sem o qual a sua sobrevivência fica em xeque.

Os cientistas acreditam que é a perda desse microrganismo, que pode acontecer com uma subida de temperatura de apenas três graus Celsius, que faz com que o tecido da esponja-do-mar acabe por deteriorar-se e morrer, uma sentença fatal para essa criatura marinha. Esse microrganismo é responsável por degradar a amónia produzida pela esponja e, sem ele, a amónia acumula-se nos tecidos da esponja, provocando a sua necrose e eventual morte.

Em laboratório, os investigadores analisaram amostras de tecidos de esponjas Stylissa flabelliformis saudáveis (à esquerda) e de esponjas doentes, com sinais de necrose (à direita).
Foto: Holly Bennett / coautora do artigo

“Já vimos ondas de calor marinhas dizimarem esponjas no Mediterrâneo e impactarem esponjas na Nova Zelândia”, recorda Emmanuelle Botté, da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália) e principal autora do artigo publicado esta quarta-feira na ‘ISME Communications’.

A investigadora explica que “vemos que algumas espécies de esponjas não são resistentes como pensávamos às alterações climáticas”, uma vez que “esta investigação revela que a degradação da simbiose entre o hospedeiro e os seus micróbios pode criar um desequilíbrio químico na esponja e causar a sua decadência”.

Com o aquecimento dos oceanos a colocarem em risco a sobrevivência dos seus simbiontes, o futuro das esponjas-do-mar é incerto, pois esses microrganismos, como diz Botté, atuam como os rins e os fígados desses animais marinhos.

E os dados mostram que a simbiose entre esponjas e microrganismos não é capaz de se adaptar aos aumentos de temperatura dos oceanos que estão previstos até ao final do século. No pior cenário, se as emissões de gases com efeito de estufa mantiverem a tendência atual, os oceanos podem aquecer globalmente mais de três ou quatro graus Celsius, ultrapassando a tolerância térmica desta simbiose entre esponja e microrganismos. Em algumas áreas marinhas europeias, essa subida pode mesmo chegar aos seis graus.

“Considerando a importância das esponjas para os ecossistemas marinhos e o papel crucial dos microrganismos para esses animais”, os autores acreditam que são “urgentemente necessários” mais trabalhos de investigação para compreender melhor a capacidade de resistência e resiliência das esponjas aos efeitos das alterações climáticas nos oceanos.





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