Cientistas revelam que Neandertais caminharam pelas dunas do Algarve há 80 mil anos



Equipa internacional de cientistas identificou pegadas fossilizadas de Neandertais com milhares de anos em praias no Algarve, a primeira vez que uma descoberta do género foi feita em território português.

Com a participação de investigadores das universidades de Lisboa e de Coimbra e do Politécnico de Tomar, o trabalho foi publicado este mês na revista ‘Scientific Reports’, e revela que as pegadas descobertas nas praias do Monte Clérigo e do Telheiro têm entre 78 e 82 mil anos.

Pegada fossilizada deixada por um Neandertal nas praias algarvias há cerca de 80 mil anos. Fonte: de Carvalho et al., 2025, Scientific Reports.

A investigação foi liderada por Carlos Neto de Carvalho, paleontólogo colaborador do Instituto Dom Luiz (IDL) e coordenador científico do Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO.

No Monte Clérigo, os cientistas identificaram cinco trilhos e 26 pegadas — algumas deixadas por crianças com cerca de um ano de idade — impressas numa encosta dunar, é informado em nota. Já no Telheiro, foi registada uma pegada isolada, que se acredita poder ter sido deixada por uma adolescente ou mulher adulta, associada a vestígios de aves costeiras.

Os investigadores estão convictos de que estas pegadas fornecem um registo direto do comportamento dos Neandertais num momento específico do tempo, revelando aspetos únicos como o número e a idade dos indivíduos, formas de locomoção, planeamento de trajetos e até possíveis estratégias de caça.

Num dos trilhos, por exemplo, há evidências de interação entre pegadas humanas e de cervídeos (família que inclui veados, gamos e corços), sugerindo perseguição ou emboscada.

Do estudo fez também parte a análise de redes ecológicas, o que revelou que a dieta dos Neandertais nas zonas costeiras da Península Ibérica era diversificada, combinando caça a veados, a cavalos e a lebres com o aproveitamento de recursos marinhos.

Para os cientistas envolvidos, estas descobertas demonstram uma adaptação sofisticada ao meio litoral e contribuem para uma nova compreensão do comportamento, mobilidade e organização social dos Neandertais, “uma espécie humana extinta há mais de 30 mil anos, mas que deixou marcas surpreendentemente vívidas na paisagem costeira portuguesa”, salientam.






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