Cinco anos depois de Fukushima, o fantasma do nuclear continua a ameaçar Portugal (com FOTOS)
Há cinco anos, o mundo acordava com a notícia de um sismo de magnitude 9,0 no Japão, seguido de um tsunami devastador, que causaram 18.000 mortos e 300.000 desalojados. Uma das consequências destes desastres naturais foi o grave acidente na Central Nuclear de Fukushima, onde o núcleo de três dos seis reactores em funcionamento entrou em fusão, com a libertação de quantidades significativas de material radioactivo. Este foi o maior desastre nuclear desde o acidente nuclear de Chernobyl.
Nos dias, semanas e meses seguintes ao acidente nuclear, as autoridades transmitiram informações falsas e omitiram dados sobre o que se estava a passar e o Governo japonês aumentou a dose máxima permitida de radioactividade para os trabalhadores da central, de 100 milissieverts em cinco anos, para duzentos e cinquenta milissieverts por ano.
Passados 5 anos, os efeitos do acidente nuclear ainda continuam. No total, 178.000 refugiados não sabem ainda quando poderão voltar para as suas casas e, a cada dia, 400 metros cúbicos de água contaminada escorrem para o oceano e as chuvas torrenciais varrem para o mar os materiais radioativos ainda presentes no local.
Há ainda 814.782 metros cúbicos de água contaminada que está armazenada em mais de 1.000 cisternas e, a cada mês, novas cisternas são instaladas. Segundo explica a organização não-governamental portuguesa de ambiente Quercus, o Governo japonês retirou os materiais contaminados de estradas, campos, áreas residenciais e outros locais em redor da Central Nuclear e pretende armazenar esses resíduos durante cerca de 30 anos, num terreno de 16 quilómetros quadrados, mas ainda só 69 dos 2.300 proprietários das terras assinaram os contratos de cedência das terras com o Governo. Por outro lado, apenas 40 mil metros cúbicos de resíduos radioactivos, representando cerca 0,2% do total existente, foram levados para a área de armazenamento planeada.
“Os 7.000 trabalhadores da Central Nuclear executam diariamente tarefas perigosas e ninguém se pode aproximar dos reactores 1, 2 e 3, devido à intensidade das radiações”, explica a Quercus. “Não existe nenhuma solução científica a esperar durante pelo menos os próximos 40 anos para este problema. Infelizmente podem ainda existir mais perturbações no futuro: a probabilidade de um novo sismo no local não é nula”.
Central Nuclear de Almaraz – o perigo perto de Portugal
Após o último grave acidente nuclear em Fukoshima, no Japão, o Grupo de Reguladores de Segurança Nuclear Europeu levou a cabo um conjunto de testes de stress (stress tests), por forma a averiguar a segurança das centrais nucleares na Europa. Em Portugal, como não existem centrais nucleares, estes não se realizaram.
No entanto, a preocupação da Quercus relativamente a esta questão mantém-se, pois a Central Nuclear de Almaraz, localizada a 100km da fronteira e junto ao rio Tejo, continua a revelar-se como um potencial perigo para toda a região transfronteiriça. “Esta central já ultrapassou o seu período normal de funcionamento e, não obstante, viu prolongado em 10 anos o seu período de actividade”, explicou a ONGA em comunicado.
“Há um risco preocupante com as centrais nucleares espanholas, na medida em que nem todos os factores de risco foram considerados nos testes efectuados”, continua a organização. “Não estão contemplados os riscos de agressões externas – atentados ou quedas de aeronaves – nem são considerados os riscos em caso de acidentes naturais – sismos, inundações – e os sistemas externos de gestão de socorro às centrais nucleares, bombeiros ou guarda.
A ONGA dá um exemplo: o risco sísmico no “stress test” à central de Almaraz efectuado pelas autoridades espanholas está claramente subavaliado e só foi analisada a resistência sísmica para sismos equivalentes aos que ocorreram entre 1970 e a actualidade. Pelo contrário, não foi analisada a possibilidade de ocorrerem sismos com uma grande magnitude que atinjam com uma intensidade significativa a Central, como foi o caso do sismo de 1755, ou do que teve o epicentro em Espanha em 1954, com magnitude de 7,9.
A Quercus considera ainda que devia ser avaliada a possibilidade de poder vir a ocorrer um sismo que afecte a barragem donde provêm a água para o arrefecimento da Central de Nuclear – Arrocampo – e com isso um acidente que teria consequências desastrosas. ~
“É importante recordar que caso não exista água suficiente para o arrefecimento dos reactores da Central poderá acontecer um problema idêntico ao que aconteceu em Fukoshima, onde o sistema de arrefecimento falhou e conduziu ao lamentável desastre”, conclui a Quercus.
Em caso de um acidente de grandes dimensões em Almaraz, este poderia resultar em contaminação radioactiva directa que atingiria Portugal, quer por via atmosférica, quer através do rio Tejo.
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