CineEco pretende o “incremento do diálogo aberto, crítico e reflexivo sobre as questões ambientais que afetam o planeta”



A 29ª edição do CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, decorre de 5 a 13 de outubro, em Seia, este ano com uma maior aposta em obras cinematográficas, na qual concorreram cerca de 300 filmes dos vários cantos do mundo, tendo sido selecionados 65, de 27 países diferentes.

É o único festival de cinema em Portugal, dedicado exclusivamente à temática ambiental, que acontece anualmente ao longo de uma semana em outubro e de forma ininterrupta, gratuita e autêntica desde 1995, por iniciativa do Município de Seia, e é um dos festivais de cinema de ambiente mais antigos do mundo.

Em entrevista à Green Savers, Célia Barbosa, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Seia, explica que o CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela nasceu em 1995, “pela vontade de afirmação e promoção do território de Seia, e da serra da Estrela, e dos valores e recursos naturais”.

Pioneiro em Portugal, enquanto festival de cinema dedicado à temática ambiental, no seu sentido mais abrangente, o CineEco “foi impulsionado pelo Município, com forte apoio das entidades nacionais com ligação à conservação da natureza, como foi o Parque Natural da Serra da Estrela, e de pessoas da comunidade e do meio cinematográfico”, acrescentou.

Segundo a autarca, a aposta na cultura cinematográfica e no ambiente como fatores de desenvolvimento “foi, à época, um importante catalisador de promoção de Seia, com o chapéu da serra da Estrela, um legado que nos acompanha até aos dias de hoje. O percurso é repleto de conquistas, como a fundação do Green Film Network, e reconhecimento, sobretudo internacional, inspirando outros festivais. As estatísticas do festival falam por si, anualmente, concorrem ao festival cerca de 600 filmes, de vários pontos do planeta. Na 29.ª edição, que estamos prestes a iniciar, estão representados 27 países”.

“Mas o sucesso do festival”, continua, “vai além da secção competitiva e dos vários ciclos de cinema. A resiliência, persistência e determinação da entidade que está na sua génese, e dos seus técnicos, tem, neste sentido, sido fundamental. Por isso, a sua capacidade de adaptação e a inovação é de salutar”.

Preocupação em envolver escolas e entidades

O foco em cinematografias de qualidade e impactantes e a transversalidade que é conseguida nas diversas atividades paralelas, como conferências sobre temáticas da atualidade, concertos, workshops, exposições, “têm conseguido captar cada vez mais a atenção do público”, destaca, acrescentando que “a preocupação em envolver escolas e entidades neste percurso de crescimento, também tem sido fundamental para o festival e para o incremento da consciência sustentável”.

A autarca explica que o convite, que é dirigido a pessoas da comunidade senense, para apadrinharem os filmes da Competição Internacional de Longas-Metragens, “também tem permitido que a teia entre o CineEco e a comunidade seja cada vez mais forte, mais participativa e, acima de tudo, que o festival seja acarinhado e um orgulho para os senenses”.

E diz que a presença nacional do CineEco “é, por sua vez, conseguida no pós festival, com as extensões. Ao longo de um ano, são apresentadas em diferentes pontos do país mostras dos filmes de cada edição do CineEco”.

Nas cinco categorias em competição ou em exibições paralelas, são vários os temas que estão presentes na programação deste ano e que são um convite à reflexão para a mudança comportamental. “Há algumas questões recorrentes nas produções que chegaram até nós e que, consequentemente, selecionamos para a programação, como: a resistência de pequenas comunidades frente a tragédias ambientais (Rejeito, Los Dias que vivimos, The Water will take us); a relação entre famílias, gênero (mulheres) e meio ambiente (Black Mambas, Dos Rios); a relação entre migrações (urbano/rural, e entre países) e ambiente (The Visitors); a questão da água – preservação de rios e recursos hídricos, luta de populações para cuidar de suas fontes de água potável (Dos Rios, The Water will take us, Esta é uma história sobre água); os impactos e desdobramentos dos incêndios em Portugal (Fire Resistant)”, explica Daniel Oliveira, um dos curadores do festival, à Green savers.

Daviel Oliveira, um dos curadores do CineEco @RobertasDaskevičius

Tentamos desenhar uma programação o mais eclética possível

Segundo o responsável, este ano, o festival antecipou para quinta-feira, dia 5 (um feriado), a sua abertura, que vai apresentar um Cineconcerto produzido pelo projeto FILMar, da Cinemateca Portuguesa. “Isso nos permitiu pensar um fim de semana completo de programação pela primeira vez. Então, entre sexta e domingo, buscamos ofertar filmes para todos os gostos: desde opções para crianças e famílias (O Segredo de Perlimps), ficção científica (Le Règle Animal), até uma longa da competitiva oficial do Festival de Cannes deste ano (Club Zero). Tentamos desenhar uma programação o mais eclética possível para agradar o público que já conhece o festival e se interessa por suas questões e temáticas, e também para pessoas que talvez ainda não tenham tido contato ou se sintam ‘leigas’ no assunto, mas que sintam a curiosidade de conferir o evento”, revela.

Até porque, segundo a vereadora da cultura, enquanto festival de cinema ambiental, o CineEco “tem como missão promover a literacia cinematográfica e a consciência ambiental, conseguidas através da apresentação de filmes e documentários transversais a vários temas da atualidade” e, este ano, denotaram um reforço do programa de ficção, num festival com uma enorme tradição de exibição de cinema documental. Na seleção competitiva oficial, terão a estreia de vários filmes produzidos em 2022 e 2023, após a exibição em festivais internacionais, em Cannes e em San Sebastian.

A autarca sublinha que o programa procura, assim, uma “maior aproximação ao público, tendo como objetivos subjacentes, o incremento do diálogo aberto, crítico e reflexivo sobre as questões ambientais que afetam o planeta”. O caminho percorrido, nos 29 anos de existência, “permite-nos afirmar que o cinema tem esse poder de consciência. Por sua vez, a globalização permite que as questões ambientais, como as alterações climáticas, estejam na ordem do dia. Por isso, o debate pela urgência da mudança de comportamentos existe e o CineEco está no centro desta evolução, seguindo o seu caminho”, conclui.

 

 





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