Cláudia Alemão, Bicla: “A inspiração veio da minha obsessão pelo papel e pelo logotipo da vaca nos sacos de ração” (ENTREVISTA)



Em Julho, a empreendedora Cláudia Alemão vai dedicar-se mais seriamente ao projecto Bicla, uma marca portuguesa que transforma sacos de cimento e de ração em carteiras, porta-moedas e alforges para bicicleta.

Em entrevista exclusiva ao Green Savers, Cláudia Alemão explicou o passado da Bicla, a fixação por vacas e bicicletas e os próximos passos do projecto. Na calha está a mistura de sacos de cimento e de ração na produção de novos objectos, a reutilização de câmaras-de-ar das bicicletas  e, quem sabe, a internacionalização para a Alemanha e países escandinavos.

Cláudia, natural da Ilha de São Jorge, Açores, gostaria que produção da Bicla fosse feita num projecto de inclusão social açoriano e que a sua marca se pudesse associar a campanhas de sensibilização de reutilização e separação de resíduos.

Como surgiu a hipótese de lançar a Bicla?

A Bicla nasceu quase por acaso. Comecei por fazer objectos por brincadeira, para dar a alguns amigos e todos me diziam que devia começar a comercializá-los. Foi o que fiz. Tive também a sorte de conseguir registar a marca com este nome, que faz todo o sentido para mim.

Quantas pessoas fazem parte do projecto. Emprega alguém?

Neste momento sou só eu, mas equaciono num futuro muito próximo ter mais gente a trabalhar. Gostaria que a produção da Bicla fosse feita num projecto de inclusão social nos Açores.

Recebeu algum apoio – financeiro ou outro – na fase inicial do projecto?

Não, porque até ao momento não senti essa necessidade, mas não está fora de questão recorrer a apoios. Tudo depende da nova fase em que a Bicla vai entrar a nível de expansão para outros mercados.

Porquê sacos de cimento? Eles são fáceis de encontrar? E os sacos de ração para animais?

Sim, os sacos de cimento são fáceis de encontrar, mas não foi por isso que optei por esta matéria-prima. Optei, sobretudo, porque tenho uma obsessão por papel. Depois, porque gosto da cor e da plasticidade do saco de cimento. O papel depois de lavado (sim, todos os sacos são lavados) adquire um efeito usado muito interessante.

Quanto aos sacos de ração de vaca – e são especificamente os sacos de ração produzidos pela fábrica de moagem da ilha de S Jorge – gosto do plástico utilizado e sobretudo da imagem – uma vaquinha azul com uma mão por baixo.

Quem são os vossos fornecedores e quanto paga por cada saco?

Eu não pago pelos sacos, eu recolho-os junto dos agricultores e obras. São sacos que, de outra forma, iam para o lixo.

Percebe-se uma certa, diria, predilecção da Bicla por vacas e bicicletas. É verdade?

Sim, sobretudo a bicicleta. Eu diria que a bicicleta e todo o lifestyle a ela associado são o motor da minha vida. Ver o mundo a partir de uma bicicleta é completamente diferente do que se fosse de carro, a pé ou de mota. É uma verdadeira inspiração.

Quanto às vacas, e vivendo numa ilha como a de S Jorge, é impossível não gostar delas. Elas estão por todo o lado e fazem parte da paisagem.

Como está a correr o negócio?

O negócio está a correr bem mas devagar… Também é verdade que, com o panorama actual, as coisas não estão fáceis, mas é sobretudo porque não lhe tenho dedicado mais atenção. Tenho outros projectos paralelos na minha vida. Tenciono, a partir de Julho, debruçar-me mais o sobre a Bicla. Eu encaro sempre os períodos como desafiadores e propícios ao engenho.

Qual o investimento inicial no projecto e quanto espera facturar este ano?

Eu nunca investi nada no projecto. Como iniciei tudo isto como uma brincadeira, na minha cabeça o projecto tinha que se auto-sustentar e é isso que tem acontecido. Tenho no entanto noção que se pretendo crescer, terei eventualmente que fazer algum investimento que ainda não está quantificado pois, como já disse, só a partir de Julho é que me irei dedicar de uma forma mais intensiva.

Que conselho daria a um empreendedor que queira começar o seu próprio negócio mas não sabe por onde começar?

Para mim, o importante é termos uma ideia e a partir daí explorá-la ao máximo em todas as suas vertentes. Bater a muitas portas sem medo que algumas se fechem. É isso que tenho feito e não tem corrido mal.

Para onde caminha a Bicla?

Pois não sei…mas sei que ainda temos algumas montanhas para subir e uns quantos caminhos de terra batida para disfrutar. O que sei é que é algo que me faz feliz e me dá muito prazer. Portanto, será sempre nessa direcção que a Bicla irá: prazer, sustentabilidade e umas quantas brisas de ar fresco na cara.

Comercializa porta-moedas, individuais, sacos de papel e alforges para bicicletas. Que outros objectos vão comercializar a curto e médio prazo?

Tenho andado na cabeça com a ideia de misturas saco de cimento/saco de ração e também a utilização de câmaras-de-ar inutilizadas das bicicletas no mesmo objecto. Vamos ver o que consigo deste casamento atípico…

Onde vê a Bicla nos próximos dez anos?

Gostava que fosse uma marca reconhecida não só pelos seus objectos mas sobretudo pelo trabalho de reutilização e sustentabilidade. Gostava que a marca Bicla pudesse associar-se a campanhas de sensibilização de reutilização e separação de resíduos.

Pensa em internacionalizar-se? Como?

Sim, gostava que a marca se internacionalizasse. Sei que, numa fase inicial, terá de ser em países que são sensíveis às questões do ambiente, tais como a Alemanha e países escandinavos, pois será mais fácil a entrada deste tipo de produto. Depois logo se verá…

A Tela Bags começou com as telas de publicidade da primeira edição do Rock In Rio. Foi uma inspiração?

Não, pelo menos de uma forma consciente. A inspiração foi mesmo a minha obsessão pelo papel e pelo logótipo da vaca nos sacos de ração.





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