Colonialismo europeu deixou marcas duradouras na flora dos territórios ocupados



“As potências europeias foram responsáveis pelo transporte, introdução ou estabelecimento, deliberado ou acidental, de espécies não-nativas” nos territórios que ocuparam durante o período colonial. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado por um grupo internacional de investigadores, que confirmam que o colonialismo europeu deixou uma marca indelével na distribuição de plantas invasoras a nível mundial.

A investigação debruçou-se, essencialmente, sobre o papel desempenhado pelos impérios português, holandês, britânico e espanhol na atual distribuição de espécies invasoras de flora, e constatou que, nos territórios ocupados pela mesma potência europeia, a composição da flora tende a ser semelhante entre si, comparativamente a regiões sob o domínio de outra potência.

Por outras palavras, os Estados europeus imperialistas levaram consigo para os locais que ocuparam plantas estranhas aos ecossistemas locais de destino, espécies que acabaram por se estabelecer e prosperar, alterando a paisagem pré-colonial.

Os investigadores explicam que “a redistribuição de espécies não-nativas em todo o mundo acelerou com o arranque do colonialismo europeu”, e que os colonos levaram plantas “principalmente por razões económicas”, para assegurar a alimentação das suas populações e para “impulsionar o estabelecimento de assentamentos”. Mas, dizem, foram também levadas por razões estéticas e para criar um ambiente mais semelhante ao que encontravam nos países de origem.

Além das espécies levadas do império para os territórios ocupados, os colonos, fruto dos contactos comerciais, terão levado plantas de uma colónia para a outra, o que resultou na criação de conjuntos de plantas muito semelhantes entre as zonas tomadas. É por isso que os cientistas dizem que quanto maior a duração do domínio imperial sobre certos territórios, maior será também a semelhança entre as plantas não-nativas presentes nessas diferentes regiões.

O estudo demonstra, então, que “a similitude florística entre regiões ocupadas pelo mesmo império aumenta com o tempo que uma região esteve ocupada” e que “regiões económica ou estrategicamente mais importantes têm floras invasoras mais semelhantes” de entre todos os territórios ocupados pela mesma potência, escrevem os investigadores num artigo publicado na ‘Nature’.

E os efeitos desse ‘colonialismo florístico’ são visíveis ainda hoje, marcando as paisagens dos países que estiveram sob o domínio imperial, e os cientistas dizem que muitas das espécies que foram introduzidas “têm impactos negativos, por vezes irreversíveis, na biodiversidade e na subsistência das pessoas”, um rasto de desequilíbrios ecológicos que podem continuar a ser sentidos durante muitos e muitos anos.





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