Com a energia mais cara, portugueses ‘habituaram-se’ a passar frio em casa, revela sondagem



Um inquérito do Portal da Construção Sustentável (PCS) revela, esta segunda-feira, que 89% dos portugueses considera não ter conforto térmico em casa, sendo que os restantes só o conseguem atingir com maiores gastos com a climatização, por exemplo, através de aparelhos de ar-condicionado.

Depois de um inverno chuvoso e com fortes ondas de frio, e de um 2022 marcado por preços de energia com aumentos muito significativos, superiores à inflação, os portugueses continuam a passar frio dentro de suas casas e admitem que este ano passaram ainda mais frio por não terem capacidade para suportar o aumento do custo da energia.

Segundo a sondagem, 88,4% dizem ter tido um aumento significativo do consumo de energia para climatizar a casa, e os dados recolhidos mostram que, de Norte a Sul do país, o desconforto térmico é geral, com mais de metade dos portugueses a assumirem que passaram mais frio em casa este inverno, devido ao aumento do custo de energia.

“E a razão é simples”, aponta o PCS, em comunicado: 61% dos portugueses “habituaram-se a passar frio para não consumirem mais energia, uma vez que assumem não conseguir pagar a fatura”.

Para fazer face ao frio e para tentar manter a conta da eletricidade dentro de limites toleráveis, o uso de equipamentos de climatização e de mais roupa são as técnicas geralmente mais utilizadas, sendo que 16% diz recorrer mais à roupa do que, por exemplo, ao ar-condicionado ou outros equipamentos para evitar mais gastos.

Diz o PCS que isso “denota a pobreza energética em que o país vive”, e Portugal, no quadro da União Europeia, é um dos mais mal classificados em matéria de pobreza energética.

Segundo a Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2021-2050, entre 1,2 e 2,3 milhões de portugueses vivem em situação de pobreza energética moderada e entre 660 e 740 mil pessoas encontram-se numa situação de pobreza energética extrema.

O inquérito mostra ainda que 53% dos portugueses, na altura de comprar ou arrendar uma casa, não estão interessados em saber como foi construída a sua casa ou que tipo de materiais foram usados, sendo que o preço acaba por derrotar o fator ‘conforto térmico’.

“Não é demais referir que quem constrói para vender, não se preocupa com as patologias que irão surgir no futuro, uma vez que o período de garantia no setor da construção é de apenas de cinco anos (só mais dois do que em qualquer equipamento eletrónico…)”, diz o PCS, salientando que “enquanto assim for, este setor não vai melhorar”, pois “as patologias inerentes ao setor da construção dão-se maioritariamente depois dos cinco e até dos 10 anos ou mais, da construção finalizada”.





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