Como a crise está a obrigar os arquitectos a reinventarem-se
Há dias, o jornal espanhol La Vanguardia deu o sinal de alarme: a arquitectura, uma das sete belas artes, está em crise. “Sobretudo uma crise existencial”, escrevia a jornalista, ao mesmo tempo que passava a explicar a sua teoria.
“A crise económica mundial e as suas características em Espanha, associada à da construção, colocaram de pernas para o ar uma profissão vocacional, liberal e glamourosa, pela sua comunhão entre a arte e a técnica”.
De acordo com Cristina Sen, que escreveu o artigo, nada será como dantes. “Os arquitectos sabem que não têm outro remédio a reinventarem-se”. A situação é muito clara: constrói-se cada vez menos, os bancos estão a cortar no crédito e, por isso, o trabalho escasseia.
Então para onde caminha a arquitectura? Há que procurar novos perfis profissionais e formas de organização, explicou Pilar García Almirall, catedrática de Construção da Universitat Politècnica de Catalunya (UPC). Ou seja, há que apostar mais na reabilitação das moradias e bairros, construção sustentável, eficiência energética e no papel do arquitecto como gestor do património das empresas, da redefinição dos seus espaços.
O artigo fala também do nascimento de um novo arquitecto, mais interventivo e com uma nova ética profissional. Esta inclui uma nova e profunda auto-crítica na forma como os arquitectos trabalharam na época das vacas gordas.
Agora, os arquitectos espanhóis – como Joan Soteres, Néstor Piris e Toni Casas, entrevistados pelo La Vanguardia – participam em todo o processo construtivo, e não apenas na execução do projecto.
Hoje, o arquitecto é também o gestor da obra, eliminando intermediários, controlando os custos e, sobretudo, evitando comissionistas. Terá de ser um arquitecto ao serviço da sociedade, que conhece o cliente final, algo que nem sempre aconteceu nas últimas décadas.
Finalmente, e de acordo com Joan Soteres, deverá ser o arquitecto a sair à rua e procurar os seus clientes, evitando cobrar de antemão por um projecto, antes sequer de mexer o seu lápis (ao contrário do que era regra). Estaremos na alvorada de uma nova era para a arquitectura mundial?