Como as empresas estão a esconder os manuais de reparação dos aparelhos



Vivemos na era da informação, onde o conhecimento está à distância de um clique. Porém, existem cada vez mais maneiras de manter a informação oculta do público. Uma destas maneiras é o copyright – o direito à cópia.

São estes direitos que as grandes empresas tecnológicas estão a usar para ocultar do domínio público os manuais de reparação, que permitem ao consumidor ou centros de reparação reparar um produto. A ocultação destes guias práticos está a ter consequências, já que afecta a economia circular, que assenta numa lógica da reutilização.

Sem os manuais de reparação, o ciclo de vida dos equipamentos torna-se mais pequeno já que não podem ser reparados e reutilizados. É esta lógica da descartelização que agrada às empresas, já que potencia os lucros.

Este fenómeno, apelidado de obsolescência programada – decisão de um produtor desenvolver, fabricar e distribuir propositadamente um produto para consumo que rapidamente se irá tornar obsoleto ou não-funcional, de maneira a forçar o consumidor a adquirir a nova geração do produto – foi criado na década de 1920, tendo a sua maior expressão nas décadas de 1940 e 1950 e ressurgiu recentemente com o grande impulso da era tecnológica.

Utilizando o direito à cópia, as empresas advogam que os manuais de instruções são criações próprias, protegendo-os do acesso público, logo da disponibilização para consulta e da cópia. A violação copyright é punida legalmente na maioria dos países.

A utilização do copyright permite assim alimentar a obsolescência programada das grandes empresas. Duas grandes tecnológicas que não facultam o acesso aos seus manuais de reparação são a Apple e a Toshiba.

No ano passado, a Toshiba foi notícia por obrigado Tim Hicks, um reparador de computadores, a apagar todos os manuais de reparação de produtos Toshiba do seu site, escreve o The Guardian. A página desde jovem australiano – a Future Proof – contém vários manuais de reparação de computadores portáteis, que podem ser consultados gratuitamente.

Segundo a gigante tecnológica japonesa, os manuais de reparação pertencem exclusivamente à Toshiba e contêm informação que só a marca e técnicos reparadores podem aceder. Tal como a Toshiba e Apple, muitas outras empresas não permitem o acesso a estes guias – Acer, Sony… São poucas as empresas tecnológicas que disponibilizam os manuais aos consumidores e entre estas marcas destacam-se empresas como a Dell ou a HP.

Caso os manuais de reparação das empresas que os ocultam sejam divulgados na internet, as marcas valem-se do copyright para retirarem as cópias de circulação.

A economia circular

A economia circular é um modelo económico que se opõe ao modelo linear. O modelo linear industrial assenta na premissa “comprar, usar e descartar”. O modelo circular é baseado na premissa da Lei de Lavoisier – “nada se perde, tudo se transforma” -, já que pressupõe uma reutilização dos produtos, onde o ciclo biológico e técnico estão combinados reciclar e reutilizar os produtos, permitindo criar novo capital.

O conceito de economia circular tem várias décadas e não pode ser atribuído a um único autor. O conceito foi evoluindo ao longo dos anos e estudado por várias escolas. Porém, foi nos finais da década de 1970 que os seus efeitos práticos nos sistemas económicos modernos e nos processos industriais começaram a ser aprofundados por um pequeno número de académicos.

O modelo circular económico está interligado com a sustentabilidade do planeta. Ao pressupor-se a reutilização dos produtos espera-se que os processos de produção necessitem de menos matéria-prima e que não seja criado tanto desperdício.

Foto:  gingerpig2000 / Creative Commons





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