Como o animal “mais misterioso” do mundo pode desaparecer



Este peixe com corpo de serpente, coberto por uma gosma escorregadia, é surpreendentemente ágil e quase impossível de segurar. A enguia passeia discretamente pelas profundezas escuras com sua fama de necrófaga e é considerada uma espécie em risco crítico de extinção – o maior nível de ameaça.

Segundo a “BBC News Brasil”, a enguia “já serviu para cobrar impostos na Inglaterra, alimentou pessoas e animais na Europa e no norte da África e sustentou uma das poucas atividades de pesca comercial em água doce nesta parte do mundo”.

Mas, acrescenta, “o mais intrigante sempre foi a sua origem. Afinal, de onde elas vêm? Esta pergunta é o mistério da enguia, que cativou naturalistas ao longo da história”.

Aristóteles, Plínio, Aldrovandi e até Sigmund Freud tentaram explicar a simples existência de um animal que parecia não se reproduzir. Cada um deles apresentou uma proposta, incluindo até a geração espontânea.

A  “BBC News Brasil” explica que o principal avanço para a solução do enigma veio do esforço e empenho do biólogo dinamarquês Johannes Schmidt que viajou nos primeiros anos do século 20 para procurar a origem das enguias europeias.

Pouco antes, no final do século 19, o zoólogo italiano Giovanni Grassi havia descoberto que certos peixes marinhos pequenos e transparentes em forma de folha, conhecidos como Leptocephalus brevirostris, eram, na verdade, formas juvenis da enguia, que hoje chamamos de larvas leptocéfalas.

“Ao aproximar-se do litoral europeu, as larvas transformam-se em enguias. Nesta forma, elas penetram nos rios e nos pântanos”, explica o site noticioso, acrescentando que a descoberta de Grassi “deixou claro que as enguias vêm do mar. Mas o mar é muito grande”.

Schmidt publicou seu trabalho em 1923 e, desde então, “afirmamos que as enguias se reproduzem no mar dos Sargaços”.
Mas a enguia enfrenta atualmente um “colapso populacional”. Desde 1980, sua população foi reduzida em mais de 95%. Hoje, a enguia “é considerada uma espécie em risco crítico de extinção – o maior nível de ameaça”, explica o site.

Segundo a mesma fonte, na Península Ibérica, a enguia perdeu 85% do território que ocupava historicamente, devido ao “efeito de barreira das represas”. Hoje, parece estranho que os espanhóis pescassem enguias nas regiões de Palencia, Soria ou Albacete, mas essa atividade era habitual antes da proliferação das represas.

E, quando as represas permitem a passagem das enguias rio acima, o resultado “pode ser ainda pior, já que a viagem de volta para o mar frequentemente resulta em atravessar turbinas geradoras de eletricidade, com poucas possibilidades de sobrevivência”, sublinha a “BBC News Brasil”.

O site acrescenta que a pesca da enguia é uma indústria centenária, mas sua exploração comercial é mais recente. A pesca da enguia no rio Guadalquivir, na Espanha, começou nos anos 1970 e pode ter causado uma “forte superexploração da espécie”.

O Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES, na sigla em inglês) propôs, em 3 de novembro passado, a proibição completa da pesca da enguia em todos os seus habitats, todos os estágios de vida e para qualquer propósito a partir de 2023.

“Seria muito importante que as instituições regionais, nacionais e continentais da Europa implementassem rigorosamente essa moratória”, conclui o site noticioso.





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