Como o Projeto80 está a levar a reciclagem de equipamentos electrónicos a 80 mil jovens (com ENTREVISTA)



É já no próximo mês, Fevereiro, que o roadshow do Projeto80 vai passar por 18 escolas portuguesas, de forma a desafiar as associações de estudantes do ensino básico e secundário e grupos informais de alunos a apresentarem projectos que fomentem a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais, o empreendedorismo, economia verde, cidadania e voluntariado.

Um dos patrocinadores do Projeto80, a Amb3E, falou com o Green Savers sobre a primeira edição da iniciativa, a sua importância no contexto específico da reciclagem de EEE (equipamentos Eléctricos e Electrónicos) e o futuro da ligação entre escolas, estudantes, jovens e a sustentabilidade.

“O balanço que fazemos é muito positivo [e já] conseguimos passar a mensagem a 105 escolas e 80 mil alunos”, explicou ao Green Savers o director-geral da Amb3E, Jorge Vicente.

Leia a entrevista na íntegra.

Que balanço faz a Amb3E da primeira edição do Projeto 80 e quais as vossas expectativas para a segunda edição?

O balanço que fazemos é muito positivo. Conseguimos passar a mensagem a 105 escolas e 80 mil alunos, que agora estarão mais conscientes da problemática da sustentabilidade, em geral, e da necessidade de encaminhar corretamente os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE). Para além disso, conseguimos mobilizar os mais jovens em torno de desafios da sua escola ou comunidade, tendo-se concretizado projectos muito interessantes do ponto de vista da sustentabilidade.

Para a segunda edição, esperamos ter ainda mais projetos a concurso e que o Projeto80 chegue a todo o país com o maior número possível de estudantes envolvidos. Finalmente, esperamos que este projecto seja mais um bom motivo para que os jovens promovam o desenvolvimento sustentável nas suas escolas e nas suas comunidades.

Porque razão decidiram patrocinar o Projeto 80? Qual a importância deste target para os objectivos da Amb3e?

A Amb3E, enquanto entidade gestora de resíduos, tem como missão sensibilizar a população em geral para a importância do correto encaminhamento dos REEE, fundamentalmente através do Ponto Electrão. Iniciativas como o Projeto80 focam temas sérios como o da reciclagem de uma forma mais divertida e leve. Neste projeto vamos mais além e queremos que sejam os próprios jovens a trabalhar como agentes de mudança.

A participação dos jovens na sociedade é fundamental e o seu contributo fará certamente a diferença na adopção de boas práticas ambientais, sociais e económicas. Eles são os consumidores de amanhã e também grandes influenciadores de comportamentos nas suas casas. Por isso mesmo, acabam por ser um dos alvos privilegiados das nossas ações.

Por outro lado, os jovens estão mais receptivos a este tipo de informação, do que os adultos. Estão numa altura em que ainda acham que podem fazer a diferença e é isso precisamente que nós queremos incentivar, esta garra e atitude proactiva.

Quais as primeiras ilações que tiram dos trabalhos e projectos desenvolvidos pelos jovens portugueses?

Nesta primeira edição, tivemos projetos muito interessantes por parte dos jovens. Apenas para apontar alguns exemplos, tivemos os estudantes de Faro a fazerem inquéritos à população para descobrirem o que fazia falta à cidade. Em Évora, os alunos criaram uma feira de voluntariado. Por todo o país, foram surgindo projetos iniciados pelos jovens no sentido de desenvolver a sua escola ou mesmo a comunidade em que se inserem.

A grande conclusão a que podemos chegar é que, quando damos aos jovens algum incentivo, conseguimos obter resultados e ideias muito positivas. Portugal é um país onde ainda há muito espaço para o desenvolvimento de iniciativas e movimentos jovens.

A temática de reciclagem é leccionada, de forma satisfatória, nas escolas secundárias portugueses?

As escolas têm feito um esforço extraordinário em envolver os jovens em todas estas iniciativas. Da nossa experiência, decorrente das várias ações que temos promovido conjuntamente com as escolas, temos que salientar o trabalho incansável dos professores e das direcções escolares para incentivar os alunos a participarem em vários projectos. Verificámos, também, que as escolas têm feito um grande esforço em envolver toda a comunidade em cada iniciativa que promovemos, ampliando a nossa mensagem de sensibilização.

Podemos notar que, cada vez mais, as escolas estão sensíveis à temática da reciclagem, e concretamente da reciclagem de REEEs. Um exemplo foram as recolhas espontâneas que tivemos, recentemente, de várias escolas básicas e secundárias de mais de seis toneladas de REEE.

Como tem mudado a percepção dos jovens, nos últimos anos, em relação ao tema da reciclagem e, especificamente, dos REEE?

Os resultados que alcançámos com os nossos programas de sensibilização têm sido extremamente positivos e temos assistido a uma grande adesão por parte das pessoas.

Na Escola Electrão, um projeto da Amb3E com grande componente pedagógica e que desafiava as escolas a recolherem o máximo de REEE, contou na sua última edição, em 2012, com 572 escolas inscritas, cerca de 430 mil alunos e mais de 50 mil professores envolvidos. Por outro lado, nos quatro anos que durou o projecto, as escolas recolheram quase cinco mil toneladas de resíduos. Mas isto não foi um caso isolado. Noutra campanha que desenvolvemos, o Quartel Electrão, tivemos uma participação de 101 corporações de bombeiros de todo o país, que recolheram, em apenas três meses, 1800 toneladas deste tipo de resíduos

Resultados como estes permitem-nos concluir que os cidadãos, e os jovens em particular, estão cada vez mais conscientes da importância de encaminhar corretamente este tipo de resíduos e dos perigos que o seu abandono indevido acarreta para o ambiente e saúde pública.

Por outro lado, temos recebido pedidos para realizarmos palestras em escolas, ações de sensibilização e informação para sectores específicos, demonstrando o interesse que esta temática tem suscitado. Acreditamos que os jovens estão mais conscientes da importância económica do tratamento e da valorização deste tipo de resíduos, quer a nível da criação de emprego, quer porque constituem uma importante fonte de obtenção de matérias-primas.

Durante o Projeto 80, que tipo de informação partilham com os jovens? E qual a sua reacção a estas informações?

Aquilo que tentamos passar para os jovens, durante o Projeto80, é que ao colocar um electrodoméstico ou outro equipamento para reciclar num Ponto Electrão, estamos não só a preservar o ambiente e os recursos naturais, mas também a contribuir para a criação de centenas de postos de trabalho no nosso país, directamente envolvidos na recolha, triagem, tratamento e valorização destes resíduos.

Tentamos transmitir a dimensão deste problema: que todos os anos são produzidos novos equipamentos, mas apenas 30-40% dos REEE são recolhidos adequadamente. Se continuarmos a consumir as matérias-primas a este ritmo, daqui a poucos anos não teremos hipótese de produzir mais equipamentos como tablets ou computadores. Por outro lado, passamos a mensagem positiva de que é possível fazer alguma coisa. Nos seis anos de actividade, a Amb3E já tratou mais de cento e cinquenta mil toneladas de REEE.

O feedback tem sido fantástico. Temos alunos que nos dizem que não deixam que ninguém lá em casa deite os electrodomésticos avariados ao lixo. Contam-nos relatos verdadeiramente positivos que nos encorajam a continuar os nossos esforços de sensibilização, porque os resultados são visíveis.

É possível que algum dos trabalhos desenvolvidos pelos mais jovens possam ser aproveitados ou adaptados numa das vossas muitas acções de sensibilização? Existe essa criatividade nos jovens portugueses?

É algo que não colocamos de parte. Até agora, não surgiu a oportunidade, mas talvez em projetos futuros.

O roadshow visita escolas em todas as capitais de distrito. De que forma esta distribuição geográfica é por vós aproveitada para reforçar a mensagem da Amb3E em zonas onde a reciclagem dos REEE é menos forte?

O facto de o Roadshow do Projeto80 visitar todas as capitais de distrito de Portugal Continental permite espalhar a nossa mensagem de uma forma mais uniforme pelo país. Aliás, a Amb3E tem tido uma preocupação em realizar ações a nível nacional. É algo que ficou bem patente em acções como a Escola Electrão, que envolveu escolas de todo o país, ou o Quartel Electrão no qual participaram corporações de bombeiros de norte a sul de Portugal.





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