Como os esqueletos enterrados influenciaram a construção do Metro de Londres
Ontem, escrevemos aqui que arqueólogos descobriram uma série de esqueletos nas obras de expansão do metro da Cidade do México, deixando em standby a nova infra-estrutura e moldando, quiçá, a localização das futuras estações.
O fenómeno, porém, não se restringe à Cidade do México. Em Londres, de acordo com o livro Necropolis: London and Its Dead, a construção do The Tube – um dos mais incríveis e completos sistemas de metropolitano do mundo – foi altamente complexa. Devido, em parte, à grande quantidade de esqueletos que o solo londrino alberga.
Segundo conta a autora do livro, Catharine Arnold, a cidade está completamente cheia de corpos, cemitérios improvisados e poços criados durante a época da Peste Negra. Estes acabaram por influenciar a localização e construção das estações de metro.
A autora dá, inclusive, um exemplo claro da dificuldade com que os planeadores e engenheiros se depararam em pleno século XIX, quando arrancou a construção do metro e se solidificou a sua expansão. Há uma clara mudança de direcção na linha Piccadilly, a leste de South Kensigton. “Na verdade, o túnel curva entre as estações de Knightsbridge e South Kensington porque foi impossível furar a massa de esqueletos que permanece enterrada em Hyde Park”, explicou Arnold.
Por outras palavras: o solo está tão denso, devido à interligação entre os esqueletos das vítimas da Grande Praga, no século XVII, que as equipas de escavação do The Tube, 200 anos depois, não conseguiram sequer entrar neste terreno.
O metro desvia-se para evitar este incrível congestionamento de crânios, pernas e braços agarrados ao solo – uma geologia artificial feita a partir de pessoas. É interessante constatar, passado todo este tempo, como a cidade se foi moldado à expansão do metro, aos edifícios construídos posteriormente, e como tudo partiu das decisões tomadas há vários séculos.
Em suma: os planeadores urbanos de há 200 e 300 anos – assim como os decisores e autoridades de higiene pública – foram involuntários influenciadores da Londres actual. Podem conhecer outras das histórias do livro aqui.