Como se corre em segurança na segunda cidade mais perigosa do mundo?



O recolher obrigatório é uma norma em Caracas, capital da Venezuela. Os parques públicos encerram antes do pôr-do-sol. A maior parte das universidades deixou de oferecer cursos pós-laborais. As esplanadas funcionam apenas dentro de centros comerciais, fortemente guardados por seguranças armados. Existem empresas que alugam carros blindados para se andar de noite e é raro ver pessoas na rua depois das 21h00.

Caracas é a segunda cidade mais violenta do mundo, depois de San Pedro Sula, nas Honduras, de acordo com o Citizen Council for Public Security and Criminal Justice. O estudo mais recente desta ONG mexicana revela que Caracas tem uma taxa de homicídio de 134 por 100.000 habitantes. A Venezuela é o único país da América do Sul que regista uma taxa de homicídios crescente desde os anos 1990, de acordo com as Nações Unidas. As razões para tal são variadas e incluem o crescente tráfico de cocaína da vizinha Colômbia. Porém, os homicídios não são o único problema: os raptos e assaltos à mão armada são também frequentes.

Para um habitante de Caracas a lista de actividades públicas proibidas, por razões de segurança, é longa. Praticar exercício, quando as temperaturas são mais amenas – ou ao nascer-do-sol ou ao pôr-do-sol, por exemplo, é uma actividade perigosa. A menos que se corra em grupo.

É isto que a associação local Runners Venezuela tem feito durante os últimos quatro anos – reunir grandes grupos de corredores e praticar exercício físico ao início da noite. A ideia para a criação do grupo nasceu da frustração: Sanmy Subero começou a correr para perder alguns quilos, mas as ruas começaram a tornar-se perigosas. Então, Subero juntou-se com alguns amigos para correm no bairro de Chacao, uma zona de classe média alta, mais segura que outras zonas de Caracas.

Rapidamente se foi juntando cada vez mais pessoas e a publicidade feita nas redes sociais ajudou a divulgar o clube de corrida. Actualmente o Runners Venezuela tem mais de 300 membros que se reúnem para correr três noites por semana. A participação no clube não tem qualquer custo e os membros são agrupados consoante a distância que querem correr.

“Parece que conseguimos o impossível”, afirma Subero. “Conquistámos as ruas à noite. As pessoas podem agora exercitar-se ao final do dia”, cita o City Lab.

A ideia é simples: segurança em número. E o conceito está a espalhar-se rapidamente pela cidade. O local onde os Runners Venezuela se encontram recebe agora aulas de pilates e ioga ao final do dia e também um grupo de ciclismo se começou a reunir ali. Um parque das imediações oferece aulas de fitness até às 19h00 e outros grupos de jogging começam a organizar-se em outros pontos da cidade.

Foto: Runners Venezuela





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...