Comportamento homossexual em mamíferos não-humanos é mais frequente em espécies sociais
O comportamento homossexual pode ter evoluído continuamente nos mamíferos não-humanos, de acordo com um artigo da Nature Communications. Os autores sugerem que isto pode desempenhar um papel adaptativo na criação de laços sociais e na redução de conflitos.
O comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo foi registado em mais de 1500 espécies animais, incluindo todos os principais grupos, desde invertebrados (como insetos, aranhas, equinodermes e nemátodos) a vertebrados (incluindo peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos). É particularmente prevalente em primatas não humanos, onde foi observado em pelo menos 51 espécies, desde lémures a macacos. Foram propostas muitas hipóteses adaptativas e não adaptativas para explicar a sua evolução, mas estas são difíceis de testar em estudos de espécies individuais.
Para investigar a evolução do comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo em mamíferos, José María Gómez e colegas fizeram uma pesquisa sistemática na literatura para compilar uma base de dados de registos deste comportamento.
De seguida, traçaram a evolução deste comportamento nos mamíferos e testaram as relações evolutivas com outros comportamentos. Descobriram que o comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo pode ser observado em diversas espécies de mamíferos não-humanos, e é igualmente frequente tanto nas fêmeas como nos machos.
As análises mostraram que este comportamento tinha mais probabilidades de evoluir em espécies sociais, o que levou os autores a sugerirem que este comportamento “ajuda a estabelecer e a manter relações sociais positivas”.
“O nosso estudo sugere que o comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo exibido por mamíferos não-humanos, em vez de ser um comportamento aberrante, é uma adaptação que desempenha um papel importante na manutenção das relações sociais em ambos os sexos e na mitigação de riscos”, afirma José María Gómez, principal autor deste estudo e investigador da Universidade de Granada.
“Adaptação para mitigar os riscos de conflito violento entre machos”
Os exemplos incluem bonobos, chimpanzés, leões, lobos e várias espécies de cabras e ovelhas selvagens. Além disso, descobriram que o comportamento homossexual masculino tinha mais probabilidades de evoluir em espécies em cujos grupos haja uma maior ocorrência de adulticídio (espécies em que os adultos por vezes matam outros adultos) por parte dos machos. Este facto sugere que pode tratar-se de uma “adaptação para mitigar os riscos de conflito violento entre machos”.
Os autores referem que estas associações “podem ser motivadas por outros fatores e que os resultados não excluem outras hipóteses para a evolução do comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo, que requerem uma investigação mais aprofundada”.
Os investigadores alertam para o facto de os resultados “não deverem ser utilizados para explicar a evolução da orientação sexual nos seres humanos, uma vez que o estudo se centrou no comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo definido como interações de cortejo ou acasalamento a curto prazo, e não numa preferência sexual mais permanente”.
Os autores referem ainda que o comportamento sexual foi estudado cuidadosamente apenas numa minoria de espécies de mamíferos não-humanos, pelo que a “nossa compreensão da evolução do comportamento sexual em mamíferos do mesmo sexo pode continuar a mudar à medida que mais espécies são estudadas”.