Conchas e esponjas: Golfinhos usam ferramentas para capturar peixes



Os golfinhos são considerados dos animais mais inteligentes à face da Terra. Além de terem uma capacidade cognitiva que poderá até rivalizar com a humana, estes mamíferos marinhos desenvolvem estruturas sociais altamente complexas que lhes permitem passar conhecimento adquirido de geração para geração, com alguns cientistas a apontarem mesmo para a existência de culturas específicas para cada grupo.

Dado esse nível de inteligência, seria de surpreender que os golfinhos fossem capazes de técnicas peculiares para capturar presas? É isso mesmo que acontece.

A organização ambientalista Whale and Dolphin Conservation (WDC) diz que há um grupo de golfinhos-roaz (Tursiops truncatus) na baía de Shark Bay, a Austrália, que usam grandes conchas para apanhar peixes. Durante a perseguição à presa, o golfinho caçador tenta encurralar o peixe na concha, à semelhança de um pescador com uma rede, e, depois de capturado, coloca a boca sobre a abertura da concha para que a refeição não escape.

Já à superfície, o golfinho inclina a cabeça para que a água que entrou na concha possa sair e de seguida abana-a para que o peixe cai na sua boca.

Golfinho-roaz a usar uma concha para apanhar peixes.
Crédito: A. Pierini / Shark Bay Dolphin Research

Um outro grupo dessa mesma comunidade de golfinhos de Shark Bay, emprega uma técnica diferente: esponjas. Enquanto procuram peixes escondidos na areia ou nas rochas no fundo do mar, esses golfinhos usam uma ‘luva de esponja’ no nariz que protege contra arranhões ou ferimentos, ou mesmo contra os tentáculos urticantes de alguma anémona.

Diz a WDC que um golfinho usa a sua esponja mais do que uma vez e leva-a consigo de um lado para o outro.

Estas técnicas usadas por golfinhos-roazes de grupo diferentes que ocupam o mesmo local de alimentação é muito importante para evitar uma competição direta sobre os mesmos alimentos, permitindo, dessa forma, que cada um dos coletivos tenha acesso aos peixes sem ter que os ‘roubar’ ao outro.

Estes comportamentos não são natos, ou seja, não nascem com os golfinhos, e são apreendidos enquanto ainda estão sob a proteção das suas progenitoras. As crias observam as técnicas de caça usadas pelas mães e, na idade adulta, acabam por repeti-las e por transmiti-las à próxima geração.

Os especialistas dizem que os pequenos golfinhos começam a usar as suas próprias esponjas por volta dos dois ou três anos de idade. São esponjas pequenas, comparadas com as que são usadas pelos adultos, mas ainda assim são essenciais para que possam desenvolver essas capacidades.

O uso das esponjas é mais frequentemente observado em fêmeas, pois, por norma, passam mais tempo com as progenitoras e, por isso, têm mais tempo para aprender a técnica. Por outro lado, os jovens machos tendem a focar-se no desenvolvimento de laços sociais com outros machos, mas podem também adquirir essa capacidade.

Cada um desses grupos, com um conjunto específico de técnicas de caça que passam de geração em geração e que, realmente, formam uma identidade que os distingue dos outros, cria e mantém uma cultura própria. Um estudo de 2005 já destacava a existência de “traços comportamentais” particulares de certos grupos de golfinhos que configuram culturas, apontando que existe “uma significativa variação cultural” entre populações que exibem comportamentos diferentes, tal como se verifica, por exemplo, nos grupos de chimpanzés.

Debruçando-se também sobre os golfinhos-roazes de Shark Bay, esse estudo revelou que nessa população, composta por várias grupos, foram identificadas 11 táticas distintas de procura de alimento, “exibindo uma diversidade comparável à que é encontrada entre chimpanzés e orangotangos”.





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