Coopérnico: o Sol no centro do negócio  



Nicolau Copérnico ficaria orgulhoso da cooperativa criada em Lisboa, provavelmente em sua homenagem, 470 anos após a sua morte. E se o astrónomo polaco surpreendeu ao defender a teoria heliocêntrica, em oposição ao geocentrismo que colocava a Terra no centro do Universo, também a equipa da Coopérnico vê nas energias renováveis – e no Sol – a base de todo o seu projecto – ao invés de tudo o que damos como garantido nos nossos dias, como os combustíveis fósseis, e que não passam de recursos finitos e poluentes.

A história da Coopérnico – a portuguesa – iniciou-se em 2013, quando um grupo de 16 cidadãos apaixonados pelo desenvolvimento sustentável decidiu criar uma cooperativa dedicada à produção de energias renováveis.

Apesar de algum pioneirismo comunicacional sobre as renováveis, desde 2005, Portugal nunca conseguiu – ou nunca quis – realmente provocar nos seus cidadãos um entusiasmo que levasse as renováveis até um outro nível de relação com as pessoas. Este é, na verdade, o primeiro objectivo da cooperativa: envolver os cidadãos e empresas na criação de um novo paradigma energético – renovável e descentralizado – em benefício da sociedade e ambiente.

Numa primeira fase, estes 16 cidadãos juntaram parte das suas poupanças e investiram em projectos de energias renováveis, onde cada um é dono da parte que desejar. Tudo isto sem qualquer tipo de apoio estatal. “Tivemos, isso sim, o apoio de outras cooperativas europeias de renováveis, que participaram no investimento dos nossos primeiros seis projectos”, explicou ao Green Savers Nuno Brito Jorge, presidente da Coopérnico.

Hoje, a cooperativa tem 150 sócios e cresce ao ritmo de dois a três por semana – deverá fechar o ano de 2015 com o triplo dos aderentes. Todos os seis projectos desenvolvidos são na área da energia solar fotovoltaica – ou não se chamassem Coopérnico -, mas o grande desafio chega agora. “Estamos a desenvolver um outro tipo de projecto, mais ambicioso, [que passa pela] entrada no mercado livre de electricidade”, revelou Nuno Brito Jorge.

“Coopérnico não é a Quercus das renováveis”

O modo de funcionamento da Coopérnico tem como pano de fundo a criação de uma comunidade de cidadãos e empresas interessados em contribuir para um novo modelo energético, social e empresarial. O objectivo da cooperativa é criar um núcleo por distrito. “No ano passado criámos dois núcleos regionais no Porto e Braga, a título experimental, e iniciámos o processo de criação de outros dois, em Santarém em Faro. Em Dezembro aprovámos o Regulamento de Núcleos Regionais e Iniciativas Locais e vamos agora iniciar a sua criação formal”, explicou o presidente da Coopérnico.

Nuno Brito Jorge recusa que a Coopérnico seja uma “espécie de Quercus” das energias renováveis, apesar de existir uma “vertente activista e de envolvimento das pessoas à causa”.

“A Coopérnico foi criada com o fim de desenvolver uma actividade económica e pode – e deve! – gerar proveitos económicos. No nosso caso, não existe uma joia de adesão nem uma quota anual. Quem entra na Coopérnico compra €60 de títulos de capital, que o tornam cooperante e, portanto, um dos donos da empresa”, esclareceu.

No final de Janeiro, a Coopérnico foi uma das entidades vencedoras do Green Project Awards 2014. “É um dos mais importantes [prémios], senão o mais importante, na área da sustentabilidade em Portugal – tem muita visibilidade e isso é fundamental para iniciativas que, como a nossa, visam envolver os cidadãos na criação de um futuro mais sustentável”, revelou.

Segundo Nuno Brito Jorge, a Coopérnico está ainda a trabalhar projectos de inovação com a Faculdade de Ciências de Universidade de Lisboa (FCUL), sobretudo com os alunos dos cursos de ambiente e de energia. No entanto, o foco encontra-se sobretudo na comercialização de eletricidade – e não nos desenvolvimentos práticos da inovação per se.

“De qualquer forma esperamos ainda este ano ter novos projectos, diversificando as tecnologias de produção que utilizamos e, se possível, usando tecnologia portuguesa”, explicou o presidente da Coopérnico. Sobre a reforma da Fiscalidade Verde, Nuno Brito Jorge assume que a sua influência é “residual” no que toca à Coopérnico – “[excepto] os prazos de amortização fiscal de projectos de energia solar” – mas as isenções que a lei traz “dão um sinal positivo para o futuro mais limpo que queremos ver, sobretudo no que toca à mobilidade”.

Este artigo faz parte de um vasto trabalho sobre os vencedores do Green Project Awards 2014. Todos os vencedores da iniciativa portuguesa podem ser consultados neste link.

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