COP28: Adaptação às alterações climáticas entre os temas menos consensuais da cimeira
O compromisso global sobre a adaptação às alterações climáticas está a ser um dos temas menos consensuais nas negociações da COP28, segundo a secretária de Estado da Energia e Clima, que relata alguma dificuldade em concordar quanto às metas.
É um dos compromissos que resultou do Acordo de Paris, em 2015, e vem sendo defendido, sobretudo, pelos países em desenvolvimento há muito tempo. O objetivo é reforçar a capacidade de adaptação, a resiliência e reduzir a vulnerabilidade às alterações climáticas, mas chegar a um consenso sobre este tema tem sido difícil.
“Ao contrário do que acontece na mitigação, para a adaptação não temos, neste momento, números que nos permitam facilmente chegar a uma posição consensualizada”, explicou aos jornalistas Ana Fontoura Gouveia.
No caso da mitigação, foram definidos objetivos concretos para limitar as alterações climáticas e o aquecimento da temperatura da Terra, como a redução em 50%, a nível global, da emissão de gases com efeito de estufa até 2050, comparando com 1990. É, ainda assim, necessário que os países se preparem e se adaptem para reduzir as consequências inevitáveis das alterações climáticas.
A propósito de uma reunião realizada na terça-feira, ao final do dia, sobre o compromisso global para com a adaptação, a representante do Governo português na 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) relatou que há países com posições muito distintas.
“Não tem sido fácil consensualizar posições sobre o que esses planos (de adaptação) devem conter”, disse, referindo que Portugal, alinhado com a da União Europeia, entende que as medidas devem ser transversais a todos os setores, mas, para isso, é necessário financiamento.
O acordo alcançado no primeiro dia da COP28 sobre o fundo de ‘perdas e danos’ representa um passo significativo, considerou a secretária de Estado, reconhecendo que é difícil captar investimento privado para a adaptação às alterações climáticas.
“De facto, são investimentos que não têm um retorno económico, mas têm um retorno social e ambiental muito importante, por isso, é necessário alargar a base de doadores e fontes alternativas de financiamento. Portugal, com as medidas de conversão de dívida, tem apontado um caminho sobre o que os outros países podem fazer”, defendeu.
Ana Fontoura Gouveia adiantou ainda que têm sido debatidas algumas medidas, como a criação de impostos globais ou mercados de carbono, que permitam financiar a adaptação. Por outro lado, acrescentou, tem sido discutido nas negociações a possibilidade de, até 2027, todos os países disporem de sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos.
“O foco, sobretudo do financiamento para a adaptação, tem de ser nos países mais vulneráveis. Não temos muitos recursos disponíveis, portanto temos de os focar naqueles projetos em que o financiamento pode verdadeiramente fazer a diferença”, defendeu.
A COP28, que começou na quinta-feira, está a decorrer até dia 12 de dezembro no Dubai, Emirados Árabes Unidos.