COP28: ONGs denunciam número “sem precedentes” de lobistas dos combustíveis fósseis na cimeira climática



Mesmo antes de começar, a 28.ª cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (COP28) já estava envolta em polémicas. Começou logo com a designação dos Emirados Árabes Unidos (EAU), um dos maiores produtores mundiais de petróleo, como anfitrião do encontro. Depois, a nomeação de Al Jaber, representante dos EAU e CEO da petrolífera estatal ADNOC, para presidente da COP intensificou os protestos e a desconfiança, sobretudo por parte dos movimentos e organizações ambientalistas, sobre a imparcialidade da presidência e sobre a força do compromisso para acabar com os combustíveis fósseis.

Embora Al Jaber tenha já, várias vezes, procurado assegurar que o seu único objetivo é reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa e travar o agravamento das alterações climáticas, uma investigação da BBC denunciou que o presidente da COP tinha planos para usar a sua posição e a cimeira para estabelecer acordos de comercialização e exploração de energia fóssil com Estados-membros. Al Jaber desmentiu as alegações da emissora britânica.

Agora, a coligação internacional Kick Big Polluters Out (KBPO), que procura combater a influência da indústria fóssil para obstaculizar a ação climática, revela que na COP28 estarão presentes, pelo menos, 2.456 representantes de empresas de combustíveis fósseis. A organização diz, em comunicado, que este é um número “sem precedentes” de lobistas da indústria fóssil numa cimeira climática das Nações Unidas, quase quatro vezes mais do que na COP27, do ano passado.

A KBPO sugere que a quantidade de delegados do setor fóssil se deverá ao facto de “os combustíveis fósseis e o seu abandono progressivo” serem um ponto central da ordem de trabalhos desta COP. A organização aponta que o número de lobistas só é superado pelas delegações dos EAU, com 4.409 pessoas, e do Brasil, com 3.081.

Segundo a análise feita à lista de participantes aos quais foi concedido acesso à COP28, o grupo de lobistas dos combustíveis fósseis supera a combinação das delegações “das 10 nações mais vulneráveis ao clima” (Somália, Chade, Níger, Guiné-Bissau, Micronésia, Tonga, Eritreia, Sudão, Libéria e Ilhas Salomão), com um total de 1.509 pessoas, e é cerca de sete vezes superior ao número de representantes oficiais de Povos Indígenas e Comunidades Locais, que serão apenas 316.

A KBPO informa que grande parte dos lobistas estão inscritos na COP28 enquanto membros de associações comerciais, sendo a maior a International Emissions Trading Association (IETA), com sede na Suíça, e que, segundo é revelado, tem na sua delegação 116 pessoas, entre elas representantes das petrolíferas Shell, TotalEnergies e Equinor.

É também criticado o facto de França ter integrado na sua delegação nacional representantes da TotalEnergies e da energética EDF, de Itália ter levado consigo representantes da petrolífera ENI e de a própria União Europeia se fazer acompanhar de membros da BP, da ENI e da ExxonMobil.

“2023 foi um ano como nenhum outro. Temperaturas recorde, níveis de emissões recorde, e agora vemos uma participação recorde de Grandes Poluidores nas negociações climáticas das Nações Unidas”, critica Muhammed Lamin Saidykhan, da Climate Action Network International, associação que integra a coligação KBPO.

Por sua vez, Brenna Two Bears, uma das responsáveis da Indigenous Environmental Network, uma rede ambientalista internacional de povos indígenas, afirma que “é claro que esta COP não existe para tomar verdadeiras ações climáticas para responder à crise climática”. E culpa a agência climática das Nações Unidas, a UNFCCC, por permitir a grande presença de lobistas da indústria fóssil na cimeira.

“Por que razão vemos tão pouco progresso no combate à crise climática? Todos já sabemos a resposta: porque a influência dos Grandes Poluidores continua a ser vista e até cresce em alguns lugares, como na COP”, lança Brice Böhmer, da Transparency International.





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