Corais no Golfo do México e Caraíbas estão sob ameaça. Temperatura do mar pode passar “limite crítico” até 2050
A temperatura das águas no Golfo do México e no Mar das Caraíbas poderá ultrapassar o “limite crítico para a saúde dos corais até meados deste século”, mas os cientistas acreditam que, se forem tomadas medidas rapidamente para “reduzir significativamente as emissões”, será possível dar aos corais até 20 anos para se adaptarem às novas condições.
Quatro cientistas climáticos e biólogos marinhos da Universidade de Rice e da Louisiana State University, nos Estados Unidos, publicaram esta semana um estudo na revista ‘Journal of Geophysical Research: Biogeosciences’, no qual defendem que “reduzir as emissões pode adiar a instalação de temperaturas oceânicas criticamente quentes em algumas áreas onde os corais ainda estão saudáveis”.
“Os recifes de coral estão entre os ecossistemas mais diversos e valiosos da Terra, e os recifes de coral no Golfo do México e no Mar das Caraíbas não são exceção”, argumentam os especialistas, explicando que, nessa região, “suportam indústrias vibrantes de recreação, turismo e pesca”. Contudo, “as alterações climáticas, incluindo o aumento das temperaturas e a acidificação dos oceanos, ameaçam a saúde futura dos corais”.
Desde a década de 1950, a cobertura de recifes de coral vivos em todo o mundo diminuiu perto de 50% e “poucos recifes nas Caraíbas e no Golfo [do México] têm mais do que 10% de cobertura de corais vivos”, adianta o estudo.
Adrienne Correa, uma das autoras da investigação, afirma que as alterações projetadas para 2050 devem servir como um “alerta”. Ainda assim, e apesar de admitir que “ouvimos muitas más notícias sobre os recifes”, tem esperança de que se possa evitar um cenário de perda massiva desses organismos vivos que servem de casa a incontáveis espécies marinhas e que desempenam papéis fundamentais na ecologia dos ambientes marinhos.
“Podemos ajudar a proteger e a manter os recifes de coral de grande cobertura que temos se agirmos de imediato”, diz Correa.
O estudo suporta-se em duas simulações, feitas através de computador, que procuram perceber os impactos do aquecimento global sobre os recifes de coral: um dos cenários apresenta um mundo em que continuamos a emitir grandes quantidades de gases poluentes para a atmosfera, enquanto o segundo apresenta um cenário em que as emissões são menores.
“Num caso, temos mais tempo para mitigar, e no outro não”, resume Sylvia Dee, outra das autoras. “As pessoas precisam de estar cientes de que isto está a acontecer rapidamente e que o tempo de explorar técnicas de mitigação é agora.”
Para percebermos o que está em causa, o grupo explica que os “corais são organismos simbióticos que vivem em parceria com algas fotossintéticas que ajudam a alimentar os seus anfitriões”. Os corais constroem também estruturas de carbonato de cálcio, nas quais se instalam, podendo dar a alguns observadores mais desatentos a impressão de que se trata de elementos geológicos, quando, na verdade, são seres vivos.
À medida que os oceanos aquecem, aumenta a ameaça sobre os corais, pois se as temperaturas forem elevadas pode ocorrer o que é conhecido como ‘branqueamento’, um fenómeno resultante da expulsão das algas simbióticas pelos corais, conferindo aos recifes anteriormente repletos de vida e de cores vibrantes uma aura fantasmagórica, assemelhando-se ao esqueleto descarnado de uma qualquer gigantesca criatura marinha que foi depositado no leito oceânico.
Adicionalmente, à medida que os oceanos se tornam mais quentes também se tornam mais ácidos, “reduzindo a eficiência das reações químicas que os corais usam para construir os recifes”.
Para Allison Lawman, o estudo mostra que o stress causado pelo aumento da temperatura “é a maior e mais imediata ameaça climática para os corais”, e a especialista advoga que podemos adiar a morte massiva dos corais nessa região do planeta em 20 anos se forem tomadas agora as medidas necessárias para reduzir drasticamente as emissões poluentes. Dessa forma, o coletivo acredita que estes pequenos seres marinhos terão capacidade para se adaptarem às novas condições, com a ajuda de programas de conservação.
“Estas projeções são muito preocupantes” e que tudo aponta para que a temperatura dos oceanos continue a aumentar devido à poluição gerada pelas atividades humanas, diz Lawman, apontando que “a principal mensagem é de que o tempo de agir é agora”.