Corais que salvam corais: Diversidade genética aumenta resistência a “doenças devastadoras”, revelam cientistas



As doenças infeciosas são uma das principais causas da redução de populações de espécies de fauna e flora marinhas, com os especialistas a apontarem que as dificuldades de diagnóstico e a escassez de opções de tratamento são os principais obstáculos. Mas parece haver esperança, particularmente no que aos corais diz respeito.

Um grupo de investigadores dos Estados Unidos e das Ilhas Caimão revela que, em certas condições, corais resistentes a doenças podem ajudar corais mais vulneráveis a recuperarem e a fazerem frente a doenças que podem ameaçar a sua sobrevivência.

Num artigo publicado este mês na revista ‘Nature’, os autores explicam que “mitigar a propagação de doenças é particularmente importante para espécies abrangidas por programas de conservação”, como é o caso de algumas populações de corais, que têm sido “particularmente devastadas por doenças e continuam a experienciar perdas populacionais catastróficas”.

Os especialistas detalham que quando mais geneticamente diversa for uma população de corais, maior será a sua capacidade de resistência a doenças, e descobriram que “alguns corais vulneráveis podem ser ‘salvos’ por genótipos resistentes”.

Anya Brown, da Universidade da Califórnia e a principal autora do estudo, assinala que “vimos que alguns corais eram mais resistentes a doenças pelo simples facto de estarem perto de outros corais que era particularmente resistentes”.

Anya Brown a mergulhar nas Ilhas Caimão
Crédito: Julie Meyer

“A proximidade a estes genótipos resistentes ajudou a escudar os corais suscetíveis face aos efeitos da doença”, acrescenta Brown.

A investigação teve como protagonista espécie de coral Acropora cervicornis, criticamente ameaçada, que os cientistas descrevem como sendo “frequentemente utilizadas para restaurar recifes degradados na região das Caraíbas”, e contou com a colaboração do Instituto Central Marinho das Caraíbas, que apoiou na monitorização da população dessa espécie.

Destacando que “há uma necessidade urgente (…) para desenvolver e implementar estratégias que podem mitigar a propagação de doenças no seio de populações afetadas”, os cientistas esperam que este estudo possa fornecer novas perspetivas e abordagens para proteger as populações de corais.

A investigação teve como ponto de partida um surto de ‘doença da banda branca’ – uma infeção bacteriana que, como o nome indica, faz com que secções dos corais apresentem descoloração devido à exposição da estrutura calcária que compõe o ‘esqueleto’ dos corais – que afetou um ‘berçário’ de corais numa das ilhas das Caimão. Nesse local, encontravam-se porções com corais com a mesma composição genética, e outras em que havia diversidade genética.

Coral afetado pela ‘doença da banda branca’
Crédito: Dagny Anastassiou

Depois de analisarem cerca de 650 fragmentos de corais durante mais de cinco meses, os cientistas perceberam que os corais que viviam em parcelas do ‘berçário’ com “mistura de genótipos”, isto é, com diversidade genética, “eram substancialmente mais resistentes à ‘doença da banda branca’”. Os cientistas recordam que nos anos 1980 essa infeção bacteriana quase levou a espécie Acropora cervicornis à extinção.

A investigação permitiu também perceber que os corais resistentes agem como um tipo de ‘barreira’ que protege os mais vulneráveis face a essa “doença devastadora”, como colocam os autores, que traçam uma comparação entre o meio marinho e as terras agrícolas: “monoculturas, onde a mesma cultura é plantada no mesmo local todos os anos, tendem a ser mais suscetíveis a doenças do que sistemas diversos”.

Brown aponta que a promoção da diversidade genética das populações criadas em ‘berçários’ “pode ajudar a fortalecer a resiliência dos corais, repovoando os recifes com uma mistura de corais geneticamente diversa”.





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