Correntes oceânicas têm protegido as Galápagos do aquecimento global e as suas águas estão a tornar-se mais frias
O arquipélago das Galápagos, um ecossistema icónico e que cuja vida selvagem inspirou o naturalista Charles Darwin a escrever a sua obra ‘A Origem das Espécies’ e a formular a sua teoria da seleção natural, abriga diversas espécies atualmente classificadas como vulneráveis, tais como pinguins, focas e leões-marinhos que não se encontram em mais nenhum local do planeta.
Um estudo publicado na plataforma ‘PLOS’ mostra que uma corrente equatorial fria tem defendido as Galápagos do aquecimento das águas do Oceano Pacífico, e indica que, nas últimas décadas, as águas nessa região têm vindo a arrefecer, ao contrário do que se verifica noutras partes do planeta, permitindo o florescimento da vida selvagem.
“Há uma batalha a ser travada entre o efeito de estufa que causa aquecimento por cima e a corrente oceânica fria”, afirma Kris Karnauskas, autor do artigo. “Atualmente, a corrente oceânica está a ganhar, e não está apenas a manter-se fria, mas está a arrefecer mais a cada ano que passa”.
O estudo indica que essa constatação gera um ‘otimismo cauteloso’ relativamente àquela que é a segunda maior reserva marinha do mundo e a um ecossistema insular biodiverso no qual se encontram várias espécies em perigo.
Assim, as águas mantêm-se a uma temperatura que permite a sobrevivência e proliferação dos corais, suportando as cadeias alimentares marinhas e permitindo a renovação das populações de animais que servem de alimento e de sustento às populações das Galápagos que dependem da pesca.
Contudo, é preciso agir para que esse arquipélago possa continuar protegido das alterações climáticas causadas pelas atividades humanas, devendo ser implementadas medidas que permitam combater a sobrepesca e mitigar os efeitos do aumento do ecoturismo na região.
É explicado que a rotação da Terra sobre o seu eixo faz com que a corrente equatorial do Oceano Pacífico, que corre de Oeste, perto da Austrália, para Leste, fique ‘presa’ nessa latitude, transportando água fria rica em nutrientes. Quando chega às Galápagos, parte dessa água é forçada a subir até à superfície, onde a atividade fotossintética gera uma abundância de alimento para todo o tipo de organismos.
“Existem evidências claras que mostram que desde 1982 esta corrente tem vindo a ganhar força e que as águas frias nas costas ocidentais das ilhas têm vindo a ficar ainda mais frias”, declara Karnauskas.
No entanto, a ciência avisa-nos que as Galápagos continuam a ser ameaçadas pelo El Niño, a fase quente de um fenómeno climático frequente que ocorre no Pacífico Tropical, que tem a capacidade para interromper a corrente fria, ainda que temporariamente, levando, por exemplo, à queda do número de pinguins-das-galápagos.
Devido às alterações climáticas, estima-se que o El Niño será cada vez mais frequente, e levantam-se receios de que a corrente possa sofrer transformações profundas que destruam, no futuro, o ‘escudo’ que tem protegido as Galápagos dos efeitos do aquecimento global.