COVID-19: Com os humanos confinados em casa, os outros mamíferos expandiram-se
Durante os primeiros meses da pandemia de COVID-19, entre janeiro e março de 2020, com os humanos fechados em casa, várias populações de outros mamíferos ampliaram o seu raio de distribuição. Vários relatos davam conta da presença de animais selvagens perto de cidades, a deambularem por estradas alcatroadas e a marcarem presença em lugares que antes estavam repletos de pessoas.
Num artigo publicado esta quinta-feira na ‘Science’, mais de uma centena de cientistas de todo o mundo uniram esforços para tentarem perceber de que forma a ausência dos humanos durante os confinamentos alterou o comportamento de várias espécies, incluindo ursos, cervídeos, girafas e até elefantes.
A investigação abrangeu a análise dos movimentos de 43 espécies de mamíferos, num total de mais de 2300 animais, entre janeiro e março de 2020, e foram depois comparados com o mesmo período do ano anterior, para que se pudessem ver as diferenças.
Marlee Tucker, da Universidade Radboud, nos Países Baixos, e principal autora do trabalho, revela que durante esses meses de confinamento, “os animais viajaram distâncias até 73% maiores num período de 10 dias do que no ano anterior”. Além disso, os cientistas verificaram que os mamíferos apareceram, em média, 36% mais perto de estradas do que em 2019.
“Isto deveu-se provavelmente ao facto de, durante os confinamentos, essas estradas terem estado mais silenciosas”, sugere.
A ausência dos humanos foi, realmente, o principal fator que levou ao aumento da dispersão dos mamíferos selvagens para zonas que antes evitariam por causa da presença de pessoas.
“Em contraste, em áreas com confinamentos menos rigorosos, vimos que os animais viajavam distâncias mais curtas”, aponta Thomas Mueller, da Universidade Goethe, na Alemanha, que concebeu este estudo juntamento com Tucker.
O investigador avança ainda outra explicação. Como durante os confinamentos as pessoas eram encorajadas a passar mais tempo em espaços naturais, por não poderem frequentar espaços fechados, como centros comerciais, é possível que os animais tenham procurado áreas com menor presença humana, uma vez que as suas florestas estavam a ser ‘invadidas’ por Homo sapiens que procuravam escapatórias à reclusão sanitária.
“A nossa investigação mostra que os animais podem responder diretamente a alterações no comportamento humano”, salienta Tucker, indicando que os resultados obtidos “dão-nos esperança para o futuro, porque, em princípio, isto significa que fazer alguns ajustes ao nosso próprio comportamento pode ter um efeito positivo nos animais”.
Defendendo que “a mobilidade humana é um fator-chave do comportamento de alguns mamíferos terrestres”, com “uma magnitude potencialmente semelhante à das modificações da paisagem”, os autores escrevem que “quando avaliamos os impactos humanos sobre o comportamento animal ou concebemos medidas de mitigação, tanto a alteração física da paisagem como a mobilidade humana devem ser tidas em consideração”.