Crise climática: “O custo da inação é muito maior do que o custo da ação”, alerta responsável da ONU
A cerca de um mês da próxima cimeira do clima das Nações Unidas, conhecida como COP27, que este ano se realiza no Egipto, o responsável da ONU para as alterações climáticas avisa que os desastres naturais que vemos atualmente “são apenas uma fração do que está por vir”.
Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC), diz que, apesar de todas as evidências científicas que hoje temos e que apontam para a degradação do ambiente e para os efeitos devastadores daa transformação do clima, “os países continuam a fazer coisas que não deveriam estar a fazer”.
A nossa dependência de combustíveis fósseis e os padrões de produção e de consumo “são insustentáveis”, lança o responsável. Apesar de se mostrar otimista, afirmando que “sabemos o que temos de fazer”, lamenta que haja falta de “vontade política” da comunidade internacional, no seu todo, “para fazer o que é necessário”.
Stiell recorda que em 2015, na COP15 de Paris, foi alcançado um “acordo histórico” que estabelece as orientações sobre o que deve ser feito, para impedir que o aquecimento global exceda os 2 graus centígrados, face a níveis pré-industriais, definindo o limite máximo nos 1,5 graus. E que em 2021, em Glasgow, foram acordadas as ações concretas que visam alcançar a redução das emissões de gases poluentes e as formas de lidar com os efeitos das alterações climáticas.
Contudo, hoje já enfrentamos um aquecimento planetário de 1,1 graus, pelo que para ser possível concretizar a marca dos 1,5 graus, “o mundo precisa de cortar em metade as suas emissões de carbono até 2030”.
Os países sabem o que precisam de fazer, refere Stiell, reconhecendo que cada um terá a sua própria “agenda interna” e os seus próprios “desafios internos”. No entanto, “o que enfrentamos com a emergência climática suplanta tudo isso”.
“Os mais vulneráveis, o que sofrem as piores consequências das alterações climáticas, não são a causa das alterações climáticas”, alerta, apontando responsabilidades aos países que integram o grupo das 20 economias mais industrializados do mundo, o chamado G20, que “geram 80% das emissões globais”.
Stiell diz que esses países, que concentram 85% da riqueza mundial, têm, se assim quiserem, a capacidade para reduzir a poluição que é lançada sobre o ambiente, destacando que os países mais pobres estão a ser fustigados por cheias, calor extremo e fogos cada vez mais intensos. E argumenta que os países mais ricos devem reforçar o apoio às comunidades mais vulneráveis em todo o mundo, para que se possam adaptar às alterações climáticas, para que possam mitigar os seus efeitos e para que possam recuperar de eventos catastróficos relacionados com a degradação ambiental.
“Este é um problema global, mas exige um esforço global”, mas “continuamos a ver aumentos das emissões e aumentos das temperaturas”.
“Quanto menos fizermos para mitigar os impactos e as causas das alterações climáticas, mais teremos de gastar em adaptação.”
Entre 2000 e 2019, o número de desastres naturais relacionados com o clima mais do que duplicaram, com cerca de 6.700 desastres a resultarem em mais de um milhão de mortes e a afetarem 4,2 milhões de pessoas em todo o mundo.
A estimativas apontam para que esses fenómenos tenham resultado em perdas de três biliões de dólares (trillion, em inglês) na economia global, mas um investimento de 1,8 biliões de dólares ao longo de 10 anos “pode salvar inúmeras vidas e modos de subsistência”, afirma a ONU.
“O trabalho que temos pela frente é avassalador, mas é exequível”, declara Stiell, e que os países, os governos e as empresas devem fazer “as escolhas certas”.