Debaixo de todo o pelo branco, a pele dos ursos-polares é, na verdade, preta



Quando pensamos em ursos-polares (Ursus maritimus) é praticamente inevitável pensarmos em espessas camadas de pelo branco, com os animais a surgirem, quase impercetíveis, contra panos de fundo cobertos de neve e de gelo. Mas a vida deste animal tem mais cores do que à partida podemos pensar.

À nascença, os ursos-polares têm uma pele rosada, coberta por uma fina camada de penugem branca. Por volta dos três ou quatro meses de idade, emergem das suas tocas com as progenitoras, e a sua pele começa a adotar uma tonalidade mais escura, chegando mesmo a tornar-se preta, visível no seu focinho, lábios e na parte inferior das suas patas.

Thea Bechshoft, cientista da Polar Bears International, uma organização não-governamental (ONG) sediada na Dinamarca e que se dedica à conservação do urso-polar, explica que, até agora, ainda não se conseguiu descobrir a funcionalidade da pele escura, apesar de ser bem conhecida a transição de cores dérmicas que o animal atravessa ao longo do seu desenvolvimento.

Uma fêmea de urso-polar com as suas duas crias, já com os narizes pretos. Quando nascem, as crias têm narizes rosados, tal como o resto da sua pele.
Foto: Susanne Miller, U.S. Fish and Wildlife Service / Wikimedia Commons

Num texto publicado no portal online da ONG, a especialista escreve que, até ao momento, não foi identificado qualquer caso de um urso-polar albino, quer em jardins zoológicos, quer em contexto selvagem, pelo que os cientistas acreditam que ter a pele escura, e também os olhos pretos, é importante para a espécie. Resta saber exatamente porquê, embora haja teorias.

Por um lado, ter a pele escura poderá ajudar os ursos-polares a absorverem uma maior quantidade de calor solar, o que nos seus habitats gelados poderá ser fundamental para a sobrevivência e funcionamento do animal. Por outro, uma maior concentração de melanina, o pigmento que confere a cor escura à pele, poderá ajudar a proteger os ursos da radiação ultravioleta, como um protetor solar.

“No caso do urso polar, a luz solar a que está exposto é intensificada quando é refletida pela neve, pelo gelo marinho e pela água, que constituem o ambiente do urso durante a maior parte do ano”, afirma Bechshoft.

No entanto, essa teoria esbarra num facto peculiar: também a língua e o interior da boca do urso-polar contêm grandes concentrações de melanina. Embora nasçam com uma língua rosada, após alguns meses começa a escurecer, embora alguns adultos possam ter línguas mais claras do que outros, consoante a quantidade de pigmento.

Tal como a pele do corpo, também a língua e o interior da boca dos ursos-polares escurece à medida que se desenvolvem.
Foto: Simon Gee / Polar Bears International

“Tanto quanto sei, não parece haver uma razão ecológica específica para a língua do urso-polar ter a cor escura que tem”, admite a cientista, sugerindo que poderá ser um ‘efeito genético colateral’ do aumento da concentração de melanina que ocorre no resto do corpo do animal à medida que cresce.





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