Depois dos carros, estarão também as televisões a manipular os consumos energéticos?



Depois do escândalo de emissões com os veículos a gasóleo do grupo Volkswagen, surge agora a hipótese de também os televisores estarem a ser alvo de manipulação para reduzir o consumo de energia de modo a obter maior nível de eficiência energética e aumentar as vendas. Em causa pode estar um acréscimo de 1,2 mil milhões de dólares às facturas de energia dos consumidores nos EUA.

O alerta é feito pela Zero– Associação Sistema Terrestre Sustentável, no dia em que é conhecido um estudo que denuncia esta alegada manipulação. Os dados agora revelados indicam que quando expostos a conteúdos reais, os mesmos televisores podem duplicar o consumo de energia publicitado. Os aparelhos são igualmente capazes de desligar os mecanismos de poupança de energia sem aviso e não permitem que os utilizadores voltem a ligá-los.

O estudo foi feito pelo Conselho para a Defesa dos Recursos Naturais (Natural Resources Defense Council – NRDC), uma organização sem fins lucrativos norte-americana que realizou testes laboratoriais em televisores Samsung, LG e da marca americana Vizio. No final verificou-se que as leis em vigor nos EUA tinham sido cumpridas, mas que “várias medidas questionáveis que vão em sentido contrário ao espírito da lei” tinham sido tomadas.

Segundo o relatório da NRDC foi possível observar “quedas dramáticas e sustentadas no uso de energia nos televisores de alguns fabricantes”, acreditando-se que “é possível que alguns fabricantes tenham desenhado os seus televisores para detectarem a ocorrência contínua de cenas curtas e cortes frequentes nas cenas, para optimizar o seu desempenho para reduzir a potência quando é apresentado conteúdo com estas características.” Mas o que significa isto na prática? “Isto permitiria a um fabricante publicar um consumo médio de energia muito baixo (e ganhar vantagem competitiva), apesar do televisor utilizar muito mais energia quando os consumidores a levarem para casa e virem os seus programas e conteúdos preferidos”, explica a organização norte-americana.

A história agora trazida à baila tinha já sido investigada pelo The Guardian, ainda em 2015. Na altura a Samsung, principal visada nesta história, negou qualquer infracção. Segundo a Zero, este novo relatório revela agora mais marcas e modelos, mas também uma estimativa do prejuízo que pode estar a causar aos consumidores. O estudo divulga ainda que as definições de eficiência estão a ser desligadas automaticamente, sem aviso e que não podem ser ligadas novamente.

A Europa tem testes muito semelhantes aos praticados nos EUA. Antes dos fabricantes poderem vender televisores na Europa, têm que realizar um vídeo de teste normalizado de 10 minutos nos seus televisores e medir a energia consumida. Este método é utilizado para verificar o cumprimento com os standards mínimos de performance de energia (Directiva Ecodesign) e para determinar o nível de eficiência energética dos televisores (Directiva de Etiqueta Energética). O que sucede é que as regras actuais para os televisores são de 2009 e não têm a capacidade de acompanhar as rápidas mudanças na tecnologia dos televisores.

A Comissão Europeia está a par do problema e já anunciou para breve regras mais fortes, que acompanhem a tecnologia dos televisores mais modernos. Para a Zero, as novas regras devem obrigar os fabricantes a informar os consumidores das alterações de configurações ou actualizações de software que possam afectar negativamente o consumo de energia dos seus aparelhos depois de adquiridos, bem como permitir aos consumidores retornar às configurações originais facilmente.

Foto: Sam Lu / Creative Commons





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